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“Causos” de viagens pelo Brasil

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Ilha de Fernando de Noronha foi um dos destinos do escritor
Ilha de Fernando de Noronha foi um dos destinos do escritor - Governo de Pernambuco
Estive pelo menos uma vez em cada estado brasileiro

Quando era criança, eu pus na cabeça que tinha que conhecer todos os estados brasileiros.

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E conheci mesmo, até Fernando de Noronha, que era território federal quando fui lá a trabalho, e hoje é um distrito de Recife.

Enfim, estive pelo menos uma vez em cada estado brasileiro. E isso me fez conhecer melhor o nosso povo e nossa cultura.

Viajei muito, de trem, ônibus, carona, barco e às vezes tinha que andar um pouco a pé, conhecendo lugares onde o asfalto não chegava. E me hospedava sempre em hotéis baratos, sem atrativos, e ficava fora dele quase todo o tempo, assim me relacionava mais com o povo simples.

O último estado que conheci foi Tocantins, que se separou de Goiás. Quando fui lá, eu me lembrei de um movimento de políticos inexpressivos do Sul de Minas querendo criar um estado lá, alegando abandono da região pelo governo estadual.

Outras pessoas insatisfeitas, mas que não cobiçavam cargos políticos, diziam que preferiam que a região se transferisse para o estado de São Paulo.

E virou uma gozação, de cara dizendo: “Vou ter que mudar. Não me acostumo com o clima de São Paulo”. E outros dizendo: “O chão de São Paulo produz batata que é uma beleza. Vou virar produtor de batata”.

E me lembrei também de uma viagem que fiz pelo oeste da Bahia. Tinha como destino a cidade de Barreiras, que hoje é grande, mas na época era pequenininha.

Peguei um ônibus em Ibotirama, na margem do São Francisco. A viagem era demorada. Tinha que percorrer uns 700 quilômetros de estrada de terra.

No ônibus lotado, com muita gente em pé, numa estrada que além de não ser asfaltada era bem esburacada, um sujeito falava mal dos brasileiros em geral, e especialmente dos nordestinos. Para ele todo brasileiro era preguiçoso.

Só que ele também era nordestino, maranhense. E começou a falar mal não só das pessoas, mas dos estados também. Só falava bem do Maranhão, governado por José Sarney, o único estado que prestava, na opinião dele.

Faço um parêntese aqui: outros maranhenses, que também estavam no ônibus, discordavam dele. Esse falando besteiras era uma exceção.
Bom... Um rapaz se disse piauiense e falou com o sujeito que os estados deles iam se juntar e formar um grande estado. Piauí e Maranhão se uniriam, já estava aprovado no Congresso.

O maranhense fanático mudou de conversa, falando de como seria poderoso o novo estado. Elogiava, esquecendo que até pouco antes falava mal de outros nordestinos. Aí o piauiense fez um ar de gozador e disse:

— Pois é, o estado juntando o Piauí e o Maranhão vai se chamar Piorão.

Um cearense brincalhão discordou do piauiense e falou:

— O Piauí vai se juntar é com o Ceará, e o novo estado vai se chamar Piorserá.

Aí todo mundo riu, inclusive maranhenses, cearenses e piauienses.

Com orgulho de serem nordestinos.

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