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Cerco imperialista ataca Venezuela

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James Mattis com o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna. Roteiro do secretário de defesa inclui a Argentina, Chile e Colômbia
James Mattis com o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna. Roteiro do secretário de defesa inclui a Argentina, Chile e Colômbia - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O golpe no Brasil não é um evento isolado. Tampouco será facilmente superado.

A passagem do General James Mattis, chefe da Defesa dos Estados Unidos em nosso país no início de agosto, sinaliza uma agenda preocupante. Um dos temas abordados foi o controle da base de lançamento de foguetes em Alcântara, Maranhão. A desejada base militar que tentaram aprovar durante o governo Fernando Henrique Cardoso e foi sepultada por Lula volta para a agenda. Segundo a imprensa, temas como a venda de áreas do pré-sal e o controle da Embraer pela Boeing também foram tratados. Uma pauta que pode ser intitulada como "entrega da soberania".

James Mattis, apelidado de "Mad Dog" (cão raivoso), que também esteve na Escola Superior de Guerra no Rio de Janeiro, esclareceu que um dos temas que motivou a viagem foi a "situação da Venezuela". A viagem fez parte de um roteiro de visitas também a Argentina, Chile e Colômbia.

O principal objetivo das agendas do general foi comprometer as forças armadas e os governos da região para aprofundar o cerco sobre a Venezuela.

Estamos diante de uma nova fase do cerco imperialista contra o governo venezuelano, na qual vão gradativamente preparando uma ação militar.

O atentado contra o presidente Nicolás Maduro, utilizando drones de alta tecnologia sugere o envolvimento de grupos altamente treinados e deixa claro que o ataque à revolução bolivariana da Venezuela ganha uma nova qualidade com crescente possibilidade de enfrentamento militar.

O presidente do Equador, Lenin Moreno, apesar de eleito pela Aliança País, de esquerda, marcou seu distanciamento em relação às políticas implementadas na gestão anterior numa clara guinada neoliberal e recentemente consumou sua traição assinando um Tratado de Cooperação Militar e de Inteligência com os EUA.

Por sua vez, o presidente da Argentina, Mauricio Macri discute a possibilidade de ativar bases militares com os EUA, que poderão se instalar na tríplice fronteira e no triângulo entre Bolívia, Argentina e Chile.

O governo Ivan Duque, eleito na Colômbia, retoma a tônica beligerante de seu mentor Álvaro Uribe. Por sua vez, o governo Juan Manuel Santos deixou a porta aberta, através de um acordo para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) se estabelecer na Colômbia, a única base na América Latina dessa enorme máquina de guerra administrada de fato pelo Pentágono com o apoio da União Europeia, cujos exércitos fazem parte dessa entidade militar.

Salta aos olhos o ritmo da ofensiva estadunidense do último ano.

Esvaziando a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e reativando o papel da Organização de Estados Americanos (OEA), através dos governos subordinados do Peru, Paraguai, Chile e Colômbia, agora contando com a Argentina, Brasil e Equador, intensificam seus ataques contra os governos da Venezuela, Bolívia, Nicarágua e El Salvador.

A história repete o roteiro dos impérios decadentes. Os EUA, debilitados economicamente, se contrapõem à tendência de declínio com o reforço de suas posições no plano militar, onde detêm uma supremacia incontrastável.

Esse movimento se traduz em uma ofensiva que é ao mesmo tempo política e militar.

O golpe no Brasil não é um evento isolado. Tampouco será facilmente superado.

Assim como a primeira ofensiva neoliberal na década de 90, nos aprisionou numa blindagem neoliberal em torno do tripé macroeconômico (juros altos, câmbio flutuante e superávit primário), agora pretendem fechar as portas que permitiram a viabilização de políticas sociais e alianças de classe que possibilitaram as experiências bem sucedidas dos governos progressistas em nosso continente. Uma ofensiva que começa a ganhar contornos militares, especialmente contra o governo da Venezuela, onde a organização popular e o apoio das forças armadas não lhes permitiram reproduzir o mesmo roteiro golpista de Honduras, Paraguai e Brasil.

*Ricardo Gebrim é advogado e membro da Direção Nacional da Consulta Popular

Edição: Daniela Stefano