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O viés de confirmação pode ser observado experimentalmente?

Tendemos a prestar mais atenção e a nos lembrar mais daquilo que nos interessa

Ouça o áudio:

O primeiro passo para se libertar desse "tilt" de nossa mente é saber que somos vítima dele
O primeiro passo para se libertar desse "tilt" de nossa mente é saber que somos vítima dele - Foto: Reprodução
Tendemos a prestar mais atenção e a nos lembrar mais daquilo que nos interessa

Na última edição falei sobre o viés de confirmação e como ele explica que o semáforo da minha rua não me odeia. Tal fenômeno psicológico, comum a todas as pessoas, nos faz dar mais atenção e importância a informações favoráveis às nossas crenças, e ignorar aquilo que as contradiz. Cito a seguir três estudos científicos que atestam a existência do viés de confirmação.

Em 1967, Brock e Balloun publicaram um estudo em que gravaram pequenos programas de áudio com informações sobre a relação do cigarro com o câncer. Em um dos programas, o locutor afirmava que fumar causa câncer e em outro não. Propositalmente, foram introduzidos chiados nas gravações. Voluntários receberam um aparelho de áudio para escutar os programas e podiam eliminar o chiado ao pressionar um botão. Os pesquisadores constataram que os participantes fumantes tenderam mais a eliminar o chiado do programa que afirmava que fumar não causa câncer, enquanto os não fumantes apertaram mais o botão eliminador de chiados no outro programa.

Em outro estudo, realizado por Nickerson em 1998, voluntários assistiam a uma série de slides contendo a foto de um objeto. As primeiras fotos eram desfocadas e o participante tinha que adivinhar qual objeto havia na imagem. A cada slide o foco da imagem melhorava. Surpreendentemente, os participantes tendiam a manter o palpite errado que deram nas primeiras tentativas, mesmo quando a imagem já estava nítida.

Em 1999, os pesquisadores Sanitioso, Kunda e Fong realizaram o seguinte teste. A um grupo de voluntários foram apresentados estudos falsos que atestavam que ser introvertido é melhor que ser extrovertido. A outro grupo, os estudos afirmavam o contrário. Em uma segunda etapa, foi pedido que cada participante se lembrasse de episódios de suas vidas em que haviam sido introvertidos ou extrovertidos. Cada grupo tendeu a se lembrar mais daquele tipo de personalidade que tinha sido apresentada como positiva na primeira etapa do experimento.

Esses três exemplos ilustram o funcionamento da mente humana e como ele se relaciona ao viés de confirmação. Tendemos a prestar mais atenção e a nos lembrar mais daquilo que nos interessa, e dificilmente abandonamos uma crença, por mais que ela se mostre equivocada.

O primeiro passo para se libertar desse "tilt" de nossa mente é saber que somos vítima dele. E você, topa esse desafio?

Um abraço e até a próxima!

Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.

Edição: Joana Tavares