Conflito agrário

Testemunha de defesa de Padre Amaro, braço direito de Dorothy Stang, é assassinada

Marcio Rodrigues dos Reis, 33 anos, foi morto na noite da última quarta-feira (4), conforme divulgado pela CPT

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ao que tudo indica, o mototaxista foi morto a golpes de faca no pescoço durante uma emboscada
Ao que tudo indica, o mototaxista foi morto a golpes de faca no pescoço durante uma emboscada - Arquivo pessoal

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou nesta sexta-feira (6) o assassinato de Marcio Rodrigues dos Reis, de 33 anos. De acordo com entidade, o mototaxista foi morto a golpes de faca no pescoço durante uma emboscada entre as cidades de Anapu e Pacajá, sudoeste do Pará, na noite da última quarta-feira (4).

Ele era a principal testemunha de defesa do padre José Amaro Lopes de Sousa, acusado de liderar a ocupação de área que é objeto de disputa judicial com o fazendeiro Silvério Albano Fernandes, em Anapu. O padre chegou a ser preso sob acusação de liderar o movimento, em março de 2018. Mas foi liberado por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

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Segundo a nota da CPT, o mototaxista estava levando o passageiro para a zona rural da cidade. Antes de chegar ao destino, o cliente lhe desferiu os golpes. A Polícia Civil informou que um inquérito foi instaurado para investigar a situação. A delegacia de Pacajá também apura o caso.

A região é conhecida por intensos conflitos agrários e conhecida como perigosa para ativistas. A missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005 em Anapu, tinha como braço direito justamente o padre Amaro Lopes, que deu continuidade ao trabalho dela com assentados do Pará. Segundo a CPT do Pará, Marcio Rodrigues dos Reis foi o 15º trabalhador rural assassinado na na cidade, desde 2015.

“Até o início de 2019, apenas dois casos [dos 14] tinham resultado em uma ação penal, e em outros três houve apenas indiciamento de algum acusado. Os outros nove inquéritos sequer foram concluídos. Em todos eles, apenas um caso teve mandante identificado e preso”, diz a nota.

Fazenda Santa Maria

De acordo com a CPT, o mototaxista fez parte do acampamento de famílias sem-terra, na fazenda Santa Maria, que reivindicavam o assentamento da terra. Ocupada pelo fazendeiro Silvério Albano Fernandes, o local foi alvo de uma ação judicial requerida Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Altamira, a fim de colocar a posse da terra nas mãos do Estado. A Justiça Federal determinou empossamento por parte do Estado. Houve recurso, no entanto, e hoje o caso tramita no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).

No dia 4 de março de 2017, um grupo de agricultores do assentamento, entre eles Reis, tentou reerguer o acampamento destruído meses antes por um grupo de fortemente armado. No entanto, “numa ação articulada entre Silvério Fernandes e o então delegado de polícia de Anapu, Rubens Mattoso”, Reis foi preso sob a acusação dos crimes de esbulho e posse de arma, informa a CPT. O mototaxista ficou preso até dezembro daquele ano.

No entanto, ele ainda foi preso novamente, em abril de 2018, quando policiais apreenderam uma espingarda em sua casa. Depois de cinco meses, foi solto.

Comissão Pastoral da Terra (CPT)

Para a CPT, “o que se percebe é que em Anapu existe uma milícia rural composta por pistoleiros, organizada por madeireiros e grileiros de terras públicas. Quem contraria seus interesses está sentenciado à morte. Com medo, muitas lideranças já saíram de Anapu, outras tem medo de denunciar os crimes temendo ser a próxima vítima. Enquanto isso, a grilagem e o desmatamento avança sobre as áreas de assentamento criados”.
 

Edição: Julia Chequer