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Vagões do metrô de SP se tornam palco para artistas levarem cultura aos passageiros

Apesar de ser proibido pelo governo do Estado, a arte nos trilhos tem crescido

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Mesmo com o trem em movimento, dançarinos de hip hop se apresentam em meio aos passageiros
Mesmo com o trem em movimento, dançarinos de hip hop se apresentam em meio aos passageiros - Foto: Coletivo Hip Hop no Vagão
Apesar de ser proibido pelo governo do Estado, a arte nos trilhos tem crescido

“Do Graja pro mundo, das batalhas pro trem,

mandando mais de cem rima para ganhar uma de cem.

Hoje em dia você vale o que tem.

Eu tenho letras e rimas minhas que podem melhorar a vida de alguém ”

Quem manda uma letra é MC Riaj, parceiro da MC Peninha, uma dupla de jovens que sai do bairro do Grajaú, no extremo sul de São Paulo, para levar música e poesia nos vagões dos trens e metrôs da maior cidade da América Latina. Todos os dias, é a mesma rotina: músicos, dançarinos, cantoras, poetas entram e saem das estações.Transforma os vagões no palco para mostrar sua arte. Levam alegria, ritmo e cultura sob os trilhos do transporte público. E enfrentou o mesmo desafio: burlar a fiscalização das guardas, já que a prática é proibida pelo governo do Estado de São Paulo.

Para ganhar uma renda e divulgar seu trabalho, Lucas Vinícius da Silva, dez anos ou mais, MC Peninha. Há um ano e meio ele entra no fluxo de trens e nos metrôs para mostrar sua arte. Cinco vezes por semana, ele leva sua poesia para a zona sul de São Paulo, e chega a tirar cinquenta a cem e cinquenta reais nas seis horas de rima por dia entre os passageiros.

MC Peninha e Riaj saem do Grajaú e conquistam os passageiros do metrô com rimas e poesias faladas. Foto: Arquivo pessoal. 

Para MC Peninha, a melhor parte do seu trampo é a flexibilidade dos horários e as histórias que nascem da vivência da arte nos vagões. A maior dificuldade é driblar os horários de pico e a patrulha dos seguranças.

"A segurança às vezes não é muito rígida. Depende do dia e da linha. Por exemplo a linha esmeraldo às vezes não está no muito rígida. Já a linha diamante é o que a chama de linha abandonada, e aí a gente fica esperto a cada estação quando a gente chega. Já fomos retirados pelos guardinhas da estação inúmeras vezes. Alguns até já conhecem a gente. Como a gente é bem de boa, eu e o Riaj a gente tem poucos conflitos. A gente só sai de boa e os guardinhas que até gostam da gente. Temos outros amigos, porém, que pela situação, porque é muito repugnante ter que sair pelo trabalho que a gente tá fazendo ali. E aí acaba tendo algumas brigas."

Desde 2018, os integrantes do grupo Hip Hop no Vagão mandam ver nas danças, rimas e acrobacias. Conhecido como Pikeno Kebra, Kennedy pratica o break, a dança de rua que representa um dos três elementos do Hip Hop – os outros dois são com o rap e o grafite.

Pikeno vem do Grajaú, tem 24 anos e é um dos onze jovens do coletivo que encara a missão de levar arte nos trilhos como um ato político de resistência. 

"Trabalhar com a minha arte, com a nossa arte dentro do vagão do trem e do metrô é uma coisa incrível, incrível de verdade, só se entende com o tempo de experiencia, com o tempo de trabalho no vagão para saber as vivências que existem. O mais bacana para mim, um amigo me disse na real e fez muito sentido para mim que a gente tá fazendo um ato politico que tá indo diretamente na veia de São Paulo. Como as linhas do metrô fossem as veias. Então a gente tá levando a arte diretamente na veia dessa cidade.Que é onde as pessoas usam o transporte público para poder se locomover pela cidade. Tanto pra trabalho, quanto para rolê, quanto para qualquer lugar e não estão esperando ver a gente, ver um show. E mostrando que a gente existe, que mesmo não sendo legal, legalizado, a gente tá lá fazendo o nosso, resistindo, contra aquilo que dizem ser certo. E tamo aí, então eu acho incrível a gente ter essa coragem, gostar de fazer isso, de tá lá compartilhando com a galera para eles verem que é possível."

Os dançarinos do Hip Hop no Vagão: Pikeno Kebra, Guh, Lula, Baby, Uiu, Smoked, Zeus, Emersu, Dijas, Irven, Training. Foto: Hip Hop no Vagão.

Para MC Peninha, é quando ele rima nos trilhos de São Paulo que passa a existir para o mundo. 

"Cê sabe rapaziada tamo aqui sem desacato. Mandando como última hora que é pro Brasil de Fato.

Mostrando que a cultura de rua se perpetua essa é a verdade nua e crua.

Talento e argumento para chegar onde nós queremos

Que cara que quer nos impedir eu sei que é Zé

por isso mesmo que nós fazemos sem cair

Brasil de Fato arte de rua é puro amor "

Para quem deseja conhecer o trabalho de MC Peninha e o grupo Hip Hop no Vagão, é tão acessível como redes sociais: instragram \ peninha_mc e instragram \ hiphopnovagao.

 

Edição: Camila Salmazio