Rio de Janeiro

CARNAVAL 2020

Samba do Paraíso do Tuiuti leva santo padroeiro do Rio de Janeiro para a avenida

“O santo e o rei: encantarias de Sebastião” promove encontro do padroeiro com rei esquecido de Portugal

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Samba-enredo da Tuiuti faz homenagem a São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro
Samba-enredo da Tuiuti faz homenagem a São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro - Divulgação

Rio, do peito flechado

Dos apaixonados

Rio-batuqueiro

Oxóssi, Orixá das coisas belas

Guardião dessa aquarela

Salve o Rio de Janeiro!

Orfeus tocam liras na favela

A cidade das mazelas

Pede ao santo proteção

Grito teu nome no cruzeiro

Ó padroeiro! Toda minha devoção!

 

Na “cidade das mazelas” do samba-enredo da Paraíso do Tuiuti para o carnaval 2020, dois personagens se encontram na avenida para acudir a população do caos instaurado no Rio de Janeiro. São Sebastião, padroeiro da cidade e da escola, e Dom Sebastião, rei de Portugal cuja morte misteriosa alimenta devoção sobre o retorno do jovem monarca. 

No enredo “O santo e o rei: encantarias de Sebastião”, do carnavalesco João Vítor Araújo, a Paraíso do Tuiuti, da zona norte carioca, sinaliza que deve manter a tradição dos anos anteriores e levar para a Sapucaí críticas ao atual momento político e social do país, sobretudo do Rio de Janeiro. 

Em 2018, quando foi vice-campeã com o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, sobre os 130 anos da Lei Áurea, a escola denunciou o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), questionou a reforma Trabalhista e um vampiro-presidente polemizou em referência a Michel Temer (MDB). 

Pelo terceiro ano consecutivo à frente do samba-enredo da Tuiuti, Moacyr Luz acredita que a crítica social é reflexo do olhar atento do sambista de cada época. “Desde os tempos do Donga e João da Baiana, o samba denuncia com suas quadras e partidos, o atraso dos trens, a falta d’água, o abuso de autoridade, a discriminação social e racial. Há tempos [o samba] vem sinalizando a nossa sociedade como preconceituosa e separatista. O sambista consegue traduzir a síntese do seu cotidiano”, afirma o compositor e sambista.

“Em cada enredo uma crítica social faz rima nos refrões de um samba. Já apontamos em 2018 pro trabalho escravo mesmo com a carteira assinada, no ano do "Salvador da Pátria" [2019] expomos os interesses políticos, arbitrariedades, e agora, 2020, versos do samba são dedicados aos apelos do povo do Rio de Janeiro para que o seu santo padroeiro salve essa cidade do caos completo.”

“O santo e o rei: encantarias de Sebastião” é uma parceria dos compositores Moacyr Luz, Cláudio Russo, Aníbal, Júlio Alves, Pier e Tricolor. "Entrar com um samba enredo na avenida, no maior palco do mundo, é imensa com qualquer tema. Cantar para São Sebastião, e até mesmo reverenciar um Rei esquecido que ressurge nas alegorias da nossa escola, é muito emocionante", completa.

Samba do Trabalhador

Compositor de clássicos como "Saudades da Guanabara", Luz também acaba de lançar o quinto álbum com o grupo Samba do Trabalhador, mesmo nome da roda de samba que acontece toda segunda-feira há 15 anos. “Fazendo Samba” (Biscoito Fino) é um disco que aponta para o futuro do gênero, com participações de João Bosco, Leci Brandão e Roberta Sá.

“Por acaso esse 20 de janeiro [Dia de São Sebastião] caiu numa segunda- feira, e esse dia na minha vida pertence ao Samba do Trabalhador! Cantei muito samba e terminei a noite em São Cristóvão, no ensaio de rua do Paraíso do Tuiuti”, conta.

Edição: Vivian Virissimo