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Passatempo da terceira idade

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Idosas conversam ao ar livre
Idosas conversam ao ar livre - Pixabay
Ficam lá, conversando, fofocando, olhando quem entra e quem sai

Quando vou a um supermercado no bairro de Pinheiros, em São Paulo, fico admirado com a quantidade de senhoras que ficam sentadas numa fileira de bancos em frente aos caixas.

Faltam praças e espaços para idosos na região, e o supermercado se tornou a praça delas. 

Ficam lá, conversando, fofocando, olhando quem entra e quem sai.

Um velho amigo meu resolveu alegrar um pouco as coisas lá. Eu soube que ele levava um aparelhinho de som e tirava as mulheres para dançar. Uma vez com cada uma. 

É dura a vida de aposentados sem atividade nas cidades grandes como São Paulo. Mas não só aqui. Não há espaços que possam ocupar numa boa. 

Em alguns lugares existem asilos que, em vez de melhorar, acho que pioram a vida de quem já está no bico do corvo. 

Há muitos anos, na periferia de São Paulo, vi um asilo de freiras em que elas achavam que estavam fazendo o maior bem aos internos, mas olhando o que elas faziam eu pensei: “pra esse pessoal internado aqui, o melhor que têm a fazer é bater as botas”.

Não havia nenhuma atividade de lazer. Nem jogo de damas, dominó, e muito menos música. A única coisa que podiam fazer era rezar. O resto era pecado. Ora... Vale a pena viver assim?

Uma atividade típica de velho aposentado é jogar dominó. Em muitas cidades, em algumas praças existem mesinhas apropriadas para o jogo de dominó. E muitos botecos também, onde se pode passar o tempo com esse joguinho. 

Na Vila Madalena tinha um bar que direto ficava cheio de aposentados jogando dominó, era conhecido como “bar do dominó”. Mas um comerciante cresceu os olhos para a boa localização do bar, conseguiu que o dono rompesse o contrato com o proprietário do boteco e alugasse para ele fazer um bar de luxo, caro. 

Os aposentados foram expulsos, simplesmente. E não havia nenhum espaço que pudessem ocupar ali por perto. 

De vez em quando via algum dos ex-frequentadores zanzando pelas ruas, com cara de infelizes. Peguei um ódio danado pelo bar novo. Nunca entrei nele. 

Mas tudo isso que falei até agora foi para contar de duas velhinhas da minha terra, que moram perto do hospital e todos os dias vão lá, no meio da manhã. 
Medem a pressão, a temperatura, a glicemia e conversam com pacientes e funcionários. O passatempo delas é ir ao hospital. 

Um amigo me contou que um dia uma delas foi sozinha ao hospital. Chegou lá, um funcionário perguntou a ela:

⸺ Sozinha hoje? Cadê a amiga?

Ela fez uma cara de tédio e falou:

⸺ A comadre não pôde vir hoje, porque está doente.

Edição: Geisa Marques