Apelo

Representação exige retirada de brasileiros de Wuhan, epicentro do novo coronavírus

Documento endereçado ao Itamaraty foi protocolado pelo deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
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Sala de espera em um hospital de Wuhan, 24 de janeiro de 2020 - AFP / Hector Retamal

O apelo dos brasileiros para que sejam retirados de Wuhan, epicentro do novocoronavírus, na China, foi reforçado neste sábado (01) pelo deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP). 

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O ex-ministro da Saúde protocolou uma representação endereçada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) na qual exige a “imediata retirada” de um grupo de cidadãos brasileiros residentes na cidade, sob pena de responsabilização administrativa e penal. 

O documento é acompanhado de uma carta-aberta assinada pelos brasileiros. 

“Importante dizer que, uma vez estarem eles em perfeitas condições de saúde até este momento, qualquer alteração neste quadro será de inteira responsabilidade de vossa Excelência e do Presidente da República”, diz um trecho da representação. 

Padilha questiona o posicionamento do governo brasileiro, que tem descartado a ideia de repatriação. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, no dia 28 de janeiro, ao referir-se a uma família que estaria na região, que a retirada do país não seria oportuna.

“Não seria oportuno retirar de lá, com todo respeito. Pelo contrário. Não vamos colocar em risco nós aqui por uma família apenas”, disse na ocasião. 

Segundo Padilha, a frase revela “absoluto desprezo pela condição de saúde das pessoas e ignorância” por parte do presidente.

“Para o país é melhor trazer esses cidadãos, e assim poder realizar e acompanhar as chamadas medidas de bloqueio, tanto de avaliação física e clínica, quanto de possibilidade de transmissão, uma vez que os órgãos de saúde do país terão mais informações sobre cada um delas e locais onde estarão”, diz um trecho do documento. 

Na última sexta-feira (31), Bolsonaro afirmou que o governo estuda estratégias para trazer os brasileiros que vivem na China e querem retornar ao país. Mas, segundo ele, é preciso resolver entraves diplomáticos, jurídicos e orçamentários.    

“Custa caro um voo desses. Na linha, se for fretar um voo, acima de US$ 500 mil o custo. Pode ser pequeno para o tamanho do orçamento brasileiro, mas precisa de aprovação do Congresso”, disse o presidente.

O deputado também ressalta na representação que o Brasil é um dos únicos países que, mesmo diante da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), continua sem qualquer plano de ação não apenas para solucionar a situação dos brasileiros residentes em Wuhan, como para prevenir o problema internamente.

“A recomendação da OMS não deixa quaisquer dúvidas quanto a responsabilidade dos mandatários de todos os países em traçar ações e estratégias de prevenção e enfrentamento”, aponta o documento. 

Apelo para sair da China

O apelo de um grupo de brasileiros que vivem na cidade de Wuhan foi registrado em vídeo publicado no YouTube neste domingo (2). Na gravação, eles se revezam na leitura de trechos de uma carta-aberta destinada ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministros das Relações Exteriores Ernesto Araújo.

No vídeo, eles lembram que operações de evacuação já foram realizadas por diversos países e dizem estar dispostos a passar pelo período de quarentena fora do território brasileiro.

"No momento em que essa carta está sendo escrita, não há, entre nós, quaisquer casos de contaminação comprovada ou até mesmo sintomas de infecção por coronavírus", diz um trecho da carta.

Assista ao vídeo

Mortes

Desde a primeira identificação do vírus, em dezembro, mais de 300 pessoas morreram por causa da doença. A maioria das pessoas estava na província de Hubei, em Wuhan. Mais de 14 mil pessoas foram infectadas.

Neste domingo, 2, a primeira morte fora da China foi confirmada: um homem de 44 anos morreu nas Filipinas após ser infectado. Ele havia viajado de Wuhan às Filipinas via Hong Kong.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, existem 16 casos suspeitos. Nenhum foi confirmado.

A reportagem solicitou ao Planalto e ao Ministério das Relações Exteriores posicionamento sobre o apelo dos brasileiros para que sejam retirados da China, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. 

Leia aqui a representação na íntegra.

Edição: Geisa Marques