No Rio

Em festa dos 40 anos do PT, Lula critica precarização e Mujica faz apelo a juventude

Ex-presidentes do Brasil e do Uruguai participaram de comemoração; partidos de oposição defenderam frente progressista

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Lula em comemoração dos 40 anos do PT, no RJ
Lula falou com público de 5 mil pessoas na Fundição Progresso, na Lapa, região central do Rio - Cláudio Kbene

Na comemoração pelos 40 anos do Partido dos Trabalhadores, no sábado (8), no Rio de janeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas à precarização e flexibilização das leis trabalhistas e disse que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) é quem deveria fazer uma autocrítica para explicar por que 12 milhões de brasileiros estão desempregados.

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“O que será da nossa juventude? Nem todo mundo pode ser jogador de bola, atleta ou ganhador da Mega Sena. As pessoas precisam trabalhar e trabalhar com salário decente. Eu quero saber se é apenas o mercado que vai reger as nossas condições de vida ou se o Estado vai agir para proteger milhões de brasileiros”, afirmou o petista, acrescentando que os jovens estão frustrados por não conseguirem bons trabalhos.

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Segundo o ex-presidente, ficou normal no Brasil ver jovens com diploma universitário entregando pizza de bicicleta. “Temos que valorizar o trabalho, mas as pessoas estão regredindo nas conquistas que elas imaginaram que teriam. Você não sabe mais quem é teu patrão, não tem mais férias. O ser humano está sendo tratado da forma mais canalha em nome de uma palavra chamada flexibilização ou em nome de uma palavra chamada empreendedorismo individual”.

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Ao lado do ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, convidado para a comemoração, Lula lembrou que tinha mais estabilidade como torneiro mecânico do que o jovem com muito mais anos de estudo tem hoje. O petista disse que o discurso tecnológico prometia muitos benefícios, mas que ele agora provoca desemprego, e não existem políticas públicas para frear e reverter essa situação.

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“Hoje, as pessoas trabalham na hora do almoço, no banheiro, trabalham uma infinidade de horas sem saber que estão trabalhando e sem ganhar nada por isso. A vida melhorou? A vida não melhorou. Como consumidor, a vida é maravilhosa. Eu pago conta pelo telefone, peço pizza no aplicativo. Mas quem é que vai garantir que essas pessoas possam ter um trabalho? Essa responsabilidade é do Estado”.

O ex-presidente do Uruguai pediu aos jovens que pensem menos em consumir “para que não sejam escravos das contas” e se comprometam mais em dar afeto, fazer política e lutar por justiça e igualdade. “O mundo não vai mudar sozinho, é preciso construir mais seres humanos coletivos. O mundo só muda se os jovens se juntam e lutam. Vim ao Brasil apostando que há um Brasil possível nas mãos dessa juventude”.

O ex-senador Lindbergh Farias conclamou que os jovens presentes na Fundição Progresso, na Lapa, região central do Rio, façam política e se filiem ao PT. Lindbergh pediu aplausos para os petroleiros, trabalhadores do Dataprev e servidores de outras estatais que vêm realizando greves para lutar contra a tentativa de Bolsonaro de provocar o desmonte e a privatização das empresas públicas.

Frente progressista

A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), agradeceu pela presença do deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) e da ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), e dos presidentes do PSB, Carlos Siqueira, e do PDT, Carlos Lupi. Gleisi afirmou que cada partido tem sua estratégia, mas que as eleições de 2020 são uma oportunidade para falar de um programa social que unifica a frente progressista.

“Esses cinco partidos se reúnem sistematicamente depois das eleições de 2018, apesar da imprensa tentar fazer fofoca para gerar conflitos. Esses partidos estiveram juntos na luta contra a reforma da Previdência, na defesa da educação brasileira, na formação da frente em defesa da soberania nacional. Estiveram juntos quando apresentamos a proposta da reforma tributária que inverte a injustiça social desse país”, comentou Gleisi.

Durante um debate sobre a unidade progressista para combater o neoliberalismo e a extrema direita, Marcelo Freixo disse que a comemoração de quatro décadas do Partido dos Trabalhadores e a liberdade de Lula não representam apenas “uma vitória do PT, mas de todos que defendem a democracia”.

“Talvez esse encontro seja já o indício de algo muito importante que pode acontecer, que é a busca da unidade. Precisamos buscar a união porque a situação mudou para pior. Precisamos estar juntos em muitas datas e ter um programa em comum.  Nós não temos que resistir ao governo Bolsonaro. Temos que destruir o governo Bolsonaro. Resistir é ganhar tempo. Precisamos de algo mais do que suportar”, declarou.

Para a ex-deputada Manuela D’Ávila, que também participou do debate, o Brasil voltou a ver a miséria que não via há anos. A pior crise da história do capitalismo global e o momento em que o neoliberalismo se apresenta de forma mais cruel, segundo ela, é o sinal para a união dos partidos de esquerda, dos sindicatos e trabalhadores e dos movimentos populares.

“Precisamos nos unir diante do verdadeiro colapso ambiental que se desenha no mundo. Um exemplo é o que acontece na Amazônia. Precisamos nos unir, porque a miséria é cada vez maior, porque voltamos a ver imagens que não víamos. Lembro de quando deixei de ver criança em situação de rua”, afirmou.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Vivian Virissimo