Nesta sexta-feira (14) os trabalhadores petroleiros de Belém do Pará venderão botijões de gás pela metade do preço, a R$ 40. A iniciativa reforça a adesão do Sindicato dos Petroleiros do Pará, Amazonas, Maranhão e Amapá à greve nacional e, ao mesmo tempo, também convida a população a refletir sobre os preços praticados pela Petrobras, lembrando a todos que a responsabilidade é do governo federal.
A greve está em seu 13º dia. Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), cerca de 20 mil trabalhadores aderiram à paralisação em 108 unidades da companhia, entre plataformas, refinarias e terminais.
No Pará, o Sindipetro fará a venda de 200 botijões gás de cozinha a R$ 40, que seria aproximadamente o preço que cobriria o valor de custo de produção da Petrobras, mais as despesas de envase e distribuição até o consumidor final.
Bruno Terribas, diretor da área de comunicação do Sindipetro PA/AM/MA/AP, explica que a ideia é fazer diferente da greve de 1995, quando as distribuidoras patronais seguraram os estoques do gás de cozinha e aumentaram os preços para a população. Segundo ele, na época, isso fez com que grande parte da sociedade ficasse contrária ao movimento dos trabalhadores.
"Naquela época houve uma reação [negativa] de um setor da população. Dessa vez, a gente vai fazer o contrário e vai disponibilizar uma parte do caixa do sindicato, que é formado pela contribuição dos trabalhadores, de forma voluntária para exatamente promover uma ação que discuta com a sociedade e mostre que os preços poderiam ser mais baratos", explica.
Contudo, para entender a política de preços da Petrobras, é preciso relembrar um ato implantando em 2016 por Pedro Parente, ex-presidente da estatal. Na época, ele deu início a uma política chamada "Preço de Paridade Internacional" (PPI), que é formado pelas cotações internacionais, somadas às despesas de importação, como, por exemplo, taxas portuárias e transportes em geral. Além do frete, há ainda o chamado custo de internação, vinculado à importação dos derivados e os valores dos seguros e riscos financeiros, incluindo, por fim, a margem de lucro.
Em maio de 2018, com a greve dos caminhoneiros, o "Preço de Paridade" passou a se chamar "Preço de Paridade de Importação". Em seu site, a Petrobras justifica que “a paridade é necessária porque o mercado brasileiro de combustíveis é aberto à livre concorrência, dando às distribuidoras a alternativa de importar os produtos. Além disso o preço considera uma margem que cobre os riscos como a volatilidade do câmbio e dos preços”.
No entanto, para o sindicalista Bruno Terribas, a forma como o governo trabalha a questão dos preços da Petrobras faz com que a importância de se ter uma empresa estatal à frente do petróleo brasileiro deixa de fazer sentido. "Porque se você alinhar com o preço internacional, tanto faz qual é a empresa. Então, é uma forma que a gente encontrou de fazer esse debate na sociedade. Por que os preços são desse jeito hoje? Como eles poderiam ser se fosse adotada uma outra política?, questiona.
Terribas ressalta que se trata de uma decisão política “de um governo ultraliberal que opta por privilegiar o capital. Inclusive hoje, a maior importação de derivados de petróleo que a gente tem são das refinarias dos Estados Unidos, da região do Texas", conclui.
Ainda segundo o diretor, o problema não está necessariamente nos impostos cobrados, mas sim no fato de o governo federal penalizar a população na taxação direta do petróleo. Ele explica que ao objetivo da atual política de preços é favorecer o lucro e os acionistas. "O que a gente quer discutir é a política de preços da Petrobras. Na nossa opinião, esse modelo de paridade de preço de importação, o PPI, é antinacional e antipopular, porque privilegia realmente o lucro imediato dos acionistas privados e tira da população o benefício de se ter uma empresa estatal, em que o acionista majoritário é o Estado. Ou seja, o próprio povo brasileiro deveria ser o controlador da Petrobras”, afirma.
A população sendo penalizada
A auxiliar administrativa Luciana Matos Silva, de 32 anos, paga cerca de R$ 75 pelo botijão de gás, que em sua casa dura, em média, um mês. O valor, segundo ela, é alto para quem ganha um salário mínimo e, por isso, a iniciativa dos petroleiros vem em uma boa hora. "Eu acho bom, vai ser um valor bem mais aceitável para pagar, uma economia de R$ 30. Dá quase para comprar outro", comemora.
O diretor de comunicação do Sindipetro PA/AM/MA/AP, Bruno Terribas afirma esse é um momento delicado em que o apoio da população à greve é fundamental. Para ele, a atual política de preços da Petrobras beneficia apenas as traders internacionais e refinarias estrangeiras, que geram empregos, lucros e renda em seus países, enquanto os consumidores brasileiros pagam preços mais altos do que deveriam.
"É um absurdo. A gente quer denunciar essa situação e conscientizar a população e a classe trabalhadora que o governo tenta vender uma imagem nacionalista e de defesa das famílias, mas está, na verdade, penalizando as famílias mais pobres e se submetendo completamente aos interesses do imperialismo.
Além das refinarias estrangeiras, a atual política de preços da Petrobras motiva os produtores de etanol a elevarem seus preços, acompanhando os reajustes da Petrobras. Com a ação e o apoio à greve, os petroleiros estão denunciando a privatização de diversas áreas da companhia, como a BR Distribuidora e Liquigás, já vendidas. Ao todo, oito refinarias, doze terminais, duas termelétricas e dezenas de outros ativos já estão em processo de privatização. Além disso, foi anunciado em janeiro o fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), resultando na demissão de mil empregados diretos e terceirizados.
Campanha de Conscientização de preços
Para a aquisição dos botijões a R$ 40, o Sindicato dos Petroleiros fará a distribuição de senhas por ordem de chegada, sendo a metade direcionada a moradores da região que sejam beneficiários do Bolsa Família e o restante a trabalhadores de empresas privadas da área industrial de Miramar. Na ocasião, a categoria contará com o apoio de representantes de outros sindicatos, movimentos sociais e da juventude.
Edição: Douglas Matos