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Sindicato classifica como "desprezível" fala de Guedes sobre trabalhadoras domésticas

Para presidente de entidade, declaração do ministro representa governo Bolsonaro: “Não governa para classe trabalhadora”

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Depois de chamar servidores de 'parasitas', Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro, faz declaração preconceituosa contra trabalhadoras domésticas - Shutterstock / Fotos Públicas

“Um governo neoliberal, um governo fascista que acha que pobre tem que estar sempre na condição submissa, aquela condição de servidão. É uma coisa desprezível”, avaliou a presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Luiza Batista, sobre a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, que tratou as trabalhadoras da categoria de forma preconceituosa na tarde de ontem (12), durante o Seminário de Abertura do Ano Legislativo da Revista Voto, em Brasília (DF).

Para a representante do sindicato, Guedes discrimina as trabalhadoras domésticas e as pessoas pobres no Brasil ao defender que dólar caro “é bom para todo mundo” e comemorar a impossibilidade de uma pessoa pobre de classe média viajar para o exterior. Na visão do ministro, em outros tempos, quando o real era mais valorizado, era uma “festa danada”.

“Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vamos importar menos, fazer substituição de importações, turismo. [Era] todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada. Vai passear em Foz do Iguaçu, vai passear ali no Nordeste, está cheio de praia bonita. Vai para Cachoeira do Itapemirim, vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu, vai passear o Brasil, vai conhecer o Brasil. Está cheio de coisa bonita para ver”, afirmou o ministro. 

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Governo do capital

A moeda estadunidense abriu esta quinta-feira (13) cotada a R$ 4,38, um novo recorde, após a fala de Paulo Guedes. Outro fator de preocupação está no impacto resultante do novo coronavírus, que vem afetando o crescimento econômico mundial.

A presidenta do sindicato destaca que as trabalhadoras domésticas são a maior categoria do país para mulheres brasileiras e contribuem para a economia, porque são a base da organização da sociedade. Para Batista, a fala de Guedes representa a face do governo Bolsonaro que “não governa para classe trabalhadora”.

“Todas as categorias de trabalhadores estão sendo atacadas nesse governo, a prova disso é a carteira verde e amarela. Você tem ‘empregos’, mas você não tem direitos. É um governo voltado exclusivamente para o capital, especuladores.”

Além da ameaça da carteira de trabalho, que isenta empresas de recolher tributos e reduz ou retira direitos dos trabalhadores, Batista afirma que as reformas Trabalhista e da Previdência são as que mais estão prejudicando as trabalhadoras domésticas e alerta.

“Direitos não se reduzem, se ampliam, mas, infelizmente por conta das 'deformas' trabalhista e previdenciárias o Brasil está retrocedendo, isso não é bom por que quando a economia começa a massacrar os pequenos quem movimenta a economia dos pequenos comércios das cidades do interior são pessoas que ganham de um a três salários-mínimos”.

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Manifestações

A deputada federal e ex-governadora do Rio, Benedita da Silva (PT-RJ), que encabeçou a PEC das Domésticas (PEC 66/2012), lei que garante os direitos trabalhistas das domésticas iguais aos trabalhadores de outros ramos, reagiu ao discurso do Ministro da Economia.

“Respeite as trabalhadoras domésticas, ministro. E se elas estão indo para a Disney e os filhos delas para a universidade foi porque os governos do PT possibilitaram esse acesso que o seu governo racista e preconceituoso vem destruindo. #trabalhadorasdomesticas”, escreveu Benedita pelo Twitter. 

O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, também apontou via Twitter o crescimento social do país e criticou Guedes. “É triste, e muita gente acha que exagero quando digo isso. Mas essa gente não suporta nem a ascensão social dos mais pobres, nem o desenvolvimento soberano do Brasil.”

Edição: Rodrigo Chagas