FESTIVIDADES

As muitas formas de curtir o carnaval na Bahia

Tem quem prefira os blocos afro, quem não troque a "pipoca" por nada, tem quem fuja da muvuca e quem tenha de trabalhar

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Sem faltar o principal ingrediente, "a alegria", as baianas curtem de maneiras diferentes o carnaval. A família de Dandara (foto) curte a folia unida - Arquivo pessoal

É carnaval / É hora de sambar /Peço licença ao sofrimento / Depois eu volto pro meu lugar / Dona tristeza, dê passagem à alegria / Nem que seja por um dia. 

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(Depois eu Volto - Batatinha)

Pedindo licença ao sofrimento e às desigualdades, como nas palavras de Oscar da Penha [Batatinha], mas sempre resistindo e lutando, dando passagem à alegria que lhe é peculiar, é que o povo baiano faz contagem regressiva e dá as boas vindas à maior festa popular de rua do mundo, o carnaval.

São muitas formas de curtir, seja para quem sai em blocos afro, quem curte a pipoca, quem acompanha as prévias e depois vai para um lugar tranquilo, quem prefere os circuitos alternativos, como o Batatinha no Pelourinho, ou ainda quem aproveita o período para “tirar” um dinheiro extra.

Conversamos com três baianas que curtem o carnaval e toparam falar sobre suas experiências, confira.

Dandara Matos, é soteropolitana e curte o carnaval na pipoca.

Como tudo começou 
“Minha família é carnavalesca. Eu cresci com a minha mãe se preparando para o Carnaval e meu pai também. Meu pai sai no Ilê e minha mãe sai no Olodum. Essa relação com o carnaval vem com os meus tios que saem em blocos de samba. Na verdade, eu sou de uma família preta soteropolitana que curte um carnaval preto soteropolitano. Então estou acostumada a curtir esse carnaval que são os dias de samba na quinta e na sexta, por ter visto isso crescer no seio dos meus tios, dos amigos, dos parentes e agregados. O Ilê Aiyê e o Olodum que tem uma relação muito forte; os blocos afros como Muzenza e Malê. Então essa relação com o carnaval de Salvador vem de dentro de casa, uma família extremamente carnavalesca”.

As primeiras vezes que curtiu a festa
“Eu lembro de com 12 anos eu acho que foi a primeira vez que eu saí na rua, num carnaval, no bloco Alvorada. É o bloco mais antigo que samba, que sai na sexta-feira. É um bloco de samba muito antigo, tradicional, que só sai meia noite. Meus tios todos saiam nesse bloco. Nesse carnaval, foi 2002 ou foi 2003, sobrou uma camisa e aí a minha tia decidiu me levar. É marcante para mim, porque é um bloco de samba de preceito. Então a gente saia meia noite, depois de todos os serviços religiosos serem feitos, tocava um hino, fogos, pra gente começar sair na avenida. Hoje não mais, mas quando eu saia e há muito tempo, nenhum bloco saia antes do Alvorada na sexta-feira”.

O que a Pipoca tem?
“Fazendo uma discussão social e ideológica entre a pipoca e o bloco, eu te diria que a maior diferença entre ela e os camarotes e blocos é a liberdade. Quem gosta de carnaval e tem condições físicas de brincas na pipoca consegue sentir a diferença. Por exemplo, quando a gente paga um bloco e sai no início do circuito dele e, na maioria das vezes, a gente encerra com ele. Nisso aí a gente gasta em torno de 10 horas. São 10 horas que você só vê e só escuta aquilo. Então brincar na pipoca me permite descer num bloco de pagode, depois pego um bloco afro, depois um bloco de samba e assim eu vou fazendo o meu carnaval”.

Dicas para curtir a pipoca
“Para o soteropolitano indico começar com um ponto fixo (eu quando comecei ficava na passarela do Campo Grande), nesse ponto você pode curtir tudo que passa por você, sem a necessidade de grandes movimentações. Quando a pessoa se sentir segura e confortável com a folia, é só começar ir atrás das atrações que mais gosta (eu comecei saindo do Campo Grande à Casa de Itália, hoje já subo e desço a Avenida Sete e Carlos Gomes). O importante é nunca extrapolar seu limite (eu não desço atrás de pipocas com índices de grandes apertos). Para o turista indico um soteropolitano, é sempre bom ter um te acompanhando nesse processo (não significa que ele não consiga sozinho)”.

 


Jéssica Barreto conta os dias para a saída do Ilê. / Arquivo pessoal

Jéssica Barreto, mora em Salvador, é Empresária e sai no Bloco Ilê Aiyê.

Quem é que sobe a ladeira do Curuzu?
Infelizmente só tive o primeiro contato com o Ilê Aiyê com 14 anos. Queria ter conhecido antes. Foi amor à primeira vista! (Risos) Cheguei na Senzala do Barro Preto e fiquei deslumbrada com tanta beleza, estilo e muita representatividade.

A paixão pelo mais belo dos belos

“Bom, quero começar falando que está fora de cogitação me divertir carnaval sem o bloco afro. Sou motivada pela energia que sinto toda vez que vou aos ensaios ou ouço as músicas do Ilê. As letras, muito bem feitas, contam minha história! Me emocionam de verdade”.

A coisa mais linda de se ver: é o Ilê Aiyê

“Ansiedade me define! Fico contando os dias para saída do Ilê. Sou Ilê o ano todo! Tento sempre estar presente aos ensaios, divulgo, indico e procuro uma forma de ajudar, dentro das minhas possibilidades, porque imagino o quanto seja difícil manter de pé um bloco voltado para cultura africana principalmente nos tempos atuais. Até porque meu trabalho é voltado para nossa cultura. Tenho uma loja e salão afro e sei as barreiras que enfrento diariamente”.

“Esse brilho negro, é brilho da paz, é o brilho do amor, é a força do Ilê Aiyê”

“Teve um ano (não me lembro bem a data) que no primeiro dia do bloco na Avenida estava chovendo muito! Tinha poças enormes de água e para quem não sabe a maioria das roupas dos blocos afros pesam muito quando molhadas. Estava com minha irmã, Jamile Barreto, toda encharcada e prometemos uma a outra que ficaríamos só para ouvir a primeira música. Resumo da história: acabamos curtindo o percurso todo, com as sandálias quebradas e foi um dos anos que mais nos divertimos”.

 


Gabriela Alvarez curte as festas que antecedem o carnaval. / Arquivo pessoal

Gabriela Alvarez, autônoma, moradora do bairro de São Caetano em Salvador, já curtiu muitos carnavais, mas hoje curte as festas que antecedem o carnaval, chamadas de “prévias”, e depois vai para um local mais sossegado.

Aproveitar as prévias e não ficar na festa nos dias de Carnaval

"Gosto das prévias por me lembrar mais um carnaval democrático, sem blocos e pessoas livres para se fantasiar e pular sem divisões por cordas."

Nem sempre foi assim

"Comecei a deixar de querer estar em salvador nos dias de carnaval, curtir as prévias e depois viajar. E agora tenho um filho, então procuro sempre unir lazer para mim e para ele".

Diferença e semelhança nas prévias e nas festas dos dias oficiais

“Acho que nas prévias os horários (de saída dos trios) são mais cedo, nos dias oficiais se concentra no turno da noite. Sinto falta de pular carnaval durante o dia. Mas a alegria do povo baiano não muda”.

Já é carnaval cidade, acorda pra ver 

(Gerônimo)


Dicas para curtir um bom carnaval

  • Mantenha-se hidratada/o - beba muita água, seu corpo precisará, ainda mais se consumir bebidas alcoólicas
  • Alimente-se bem
  • Intercale a folia com períodos de descanso, dormir é importante.
  • Não economize no protetor solar, afinal ninguém quer pegar uma insolação em pleno carnaval.
  • Use preservativo, não vacile. Há distribuição gratuita nos postos.
  • Use roupas leves e confortáveis.
  • Documentos na mão e pertences protegidos.
  • Não é não. Respeita as minas, as mona e as manas.
  • É permitido ser feliz, aproveitar a maior festa de rua do mundo, mas sempre com respeito ao próximo e responsabilidade.
     

Fonte: BdF Bahia

Edição: Rodrigo Chagas e Elen Carvalho