O Bloco Hospício Cultural homenageou, na tarde desse domingo (16), Dandara dos Santos, travesti brutalmente assassinada no estado do Ceará há três anos, no dia 15 de fevereiro de 2017. O ato contou com a presença de várias mulheres que subiram ao palco com cartazes e palavras de ordem pedindo o fim da transfobia e do feminicídio. Silvinha Cavalleire, mulher trans integrante do coletivo Hospício Cultural, discursou sobre os temas, cobrando do poder público mais ações de combate à transfobia e à misoginia.
O Brasil é o quinto país em morte violenta de mulheres e líder no ranking mundial de assassinatos de transexuais. À época do caso de Dandara, imagens filmadas do assassinato ganharam repercussão internacional e levantaram ao mundo o alerta contra casos de discriminação. Um ano e dois meses depois do acontecimento, cinco acusados foram condenados, individualmente, conforme a participação no crime, por homofobia. Agora, três anos depois, o nome de Dandara representa a luta contra o preconceito, a discriminação e o racismo.
Nos últimos dias, homenagens marcaram redes sociais e ganharam as ruas pelo país. Pedidos de justiça e de leis efetivas, que garantam à população LGBT+ a aplicação dos direitos que possuem, permanecem sendo realizados. Além de atos no Brasil, homenagens pelo mundo também estão sendo feitas à travesti. Em Nova Iorque, uma escultura do artista Rubem Robierb, que simboliza as asas de uma borboleta, está desde o mês de dezembro instalada em uma praça em Tribeca, onde deve ficar até o mês de maio. Posteriormente, a pedido da prefeitura de Miami, a estrutura deve ser levada à Flórida para que permaneça no local.
Leia a carta aberta do bloco sobre o ato que ocorreu neste domingo (16), na Praça João Gentil:
Dandara presente! Monike, Presente!
O Bloco Hospício Cultural presta sua singela homenagem a travesti Dandara dos Santos, no terceiro ano de seu assassinato. Nosso bloco não deixará que o legado de Dandara seja esquecido: o respeito pelo qual devemos ter às pessoas travestis, mulheres trans e homens trans. Repudiamos, inclusive, que pessoas se vistam no intuito de imitá-las - principalmente em festas como o Carnaval. Travesti e mulher trans não são fantasia! Homem trans não é fantasia! Essas são identidades de gênero que precisam que sua dignidade e sua cidadania sejam asseguradas pela sociedade.
O Bloco Hospício Cultural também lamenta profundamente o assassinato da travesti Monike Matias Chagas, na mesma semana deste terceiro ano do assassinato de Dandara, e também com requintes de crueldade: Monike foi encontrada com o corpo acorrentado, jogado em uma cachoeira, no município de Missão Velha (CE). O recado do seu assassino foi claro: ela deveria ficar aprisionada ao corpo que não refletia sua verdadeira identidade. Nossos sentimentos à família de Monike, às suas amizades e à comunidade LGBT+ como um todo, pelas 11mortes registradas no Ceará só nestes primeiros meses de 2020.
Desejamos, de todo o nosso coração folião, que sejam eternas a alegria e a nossa resistência. Pois o Bloco Hospício Cultural estará sempre em "luto" por cada vida ceifada. Luto, para nós, vem do verbo lutar!
Dandara, presente!
Monike, presente!
Dandara vive!
Monike vive!
Fortaleza, 16 de fevereiro de 2020.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Monyse Ravena e Camila Maciel