A Guatemala vive uma intensa crise institucional, com protestos sucessivos contra o orçamento aprovado pelo Congresso do país e pela renúncia do presidente de direita, Alejandro Giammattei.
A mobilização massiva realizada no último sábado (21) no país centro-americano levou à suspensão da tramitação do orçamento do próximo ano, como anunciou o presidente da Câmara, Allan Rodríguez.
O projeto apresentado pelo Executivo para o orçamento de 2021, equivalente a US$ 12 bilhões, corresponde a uma cifra recorde no país. O montante bilionário, segundo o governo, priorizaria a crise sanitária e econômica, gerada pela covid-19, retirando investimentos da área de direitos humanos, universidades federais e da saúde – afetando, por exemplo, o tratamento de paciente oncológicos.
A iniciativa não convenceu a população, já desgastada pela pandemia e corrupção de governos anteriores. Os protestos se intensificaram e no último sábado (22) manifestantes chegaram a atear fogo em uma parte da sede do Congresso.
Além dos cortes em áreas prioritárias, a proposta de orçamento ainda levaria a um aumento das dívidas externas do país, pois o governo precisaria recorrer às instituições financeiras internacionais, como o FMI.
Diante da atual crise, o vice-presidente, Guillermo Castillo, chegou a declarar publicamente que ele e o presidente deveriam renunciar a seus cargos. A proposta não parece ter sido aceita por Giammatei que, nesse domingo (22) decidiu recorrer à Carta Democrática Interamericana (CDI) "contra aos gravíssimos acontecimentos ocorridos nos últimos dias".
A nota divulgada pela presidência se refere às manifestações ocorridas no sábado (21), quando supostos manifestantes atearam fogo no Congresso.
O instrumento mencionado pelo mandatário foi aprovado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para "reestabelecer a ordem democrática em situações nas quais seja necessária".
Como explica Carlos Barrientos, do Comitê de Unidade Campesina (CUC) da Guatemala, a população do país centro-americano deve continuar nas ruas com a bandeira da renúncia do presidente e uma reforma institucional que abarque todos os poderes.
“O que [os manifestantes] estão propondo não é só o veto à lei do orçamento, mas a renúncia do Executivo, a depuração do Congresso e a renúncia da Corte Suprema, já que todos estão nas mãos da corrupção. Há um sentimento de muita indignação pelas ações deste governo, um governo de direita, autoritário, que fez como os anteriores, reprimindo as manifestações pacíficas”, sintetiza o militante em entrevista ao Peoples Dispatch.
Em junho deste ano, o presidente guatemalteco demitiu o ministro de Saúde, Hugo Monroy, e toda a cúpula da pasta, criticada pela gestão dos recursos que deveriam ser utilizados para enfrentar a pandemia de covid-19. Apesar de contar com um alto orçamento para criação de hospitais e compra de insumos, os recursos não foram aplicados corretamente.
Neste contexto de crescente precarização dos serviços de saúde, com a consequente indignação da população, o país enfrentou ainda dois furacões neste mês de novembro. Nos primeiros dias deste mês, o furacão ETA atingiu o território centro-americano e caribenho, causando inundação e destruição de casas em centenas de povoados do país.
Duas semanas depois, o ciclone Iota, de intensidade 5 (máxima), chegou à Guatemala. A passagem pelo país deixou dois mortos, cinco desaparecidos, 4.027 pessoas em abrigos e 1.381 casas danificadas.
Edição: Luiza Mançano