Na noite desta terça-feira (15), a Polícia Militar (PM) de Sergipe invadiu a Ocupação Valdice Teles, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em Aracaju (SE), e matou um morador. De acordo com o movimento, os policiais não tinham mandado judicial e chegaram atirando.
Quatro coordenadores da ocupação, localizada no bairro Santa Maria, foram detidos por desacato e, horas depois, liberados. Ainda segundo o MTST, outro morador foi torturado e, bastante machucado, foi levado ao hospital.
"Eles atiraram indiscriminadamente para todos os lados. Só na madrugada a gente já conseguiu coletar mais de 20 cápsulas. Imagine quantos tiros eles não deram", relata Izadora Brito, advogada do MTST.
Segundo ela, quando a comunidade viu uma pessoa enrolada em um lençol sendo carregada pelos policiais, muitos foram para a frente e começaram a gritar para que parassem. "Eles continuaram atirando, jogando spray de pimenta", diz Brito.
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Versões não batem
Procurada pelo Brasil de Fato, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de Sergipe, sob governo de Belivaldo Chagas (PSD), afirmou que a ação aconteceu em decorrência de uma informação que chegou via disque-denúncia.
Nas palavras da SSP, a chamada teria informado a polícia "sobre a presença de um grupo de oito indivíduos no qual haveria três suspeitos armados. A informação também mencionava que eles estariam planejando roubar motocicletas para cometer outros crimes, como homicídios".
Em relação ao homicídio cometido pela PM, a SSP disse ter sido resultado da reação policial a disparos de fogo feitos contra eles por "um grupo".
"Um dos suspeitos acabou sendo atingido, foi socorrido ao Huse, mas veio a óbito", informou o órgão estatal que disse, ainda, ter apreendido uma arma.
"Não houve absolutamente nenhum confronto, nenhuma troca de tiros. Nada foi apreendido na ocupação. Foi uma prática de extermínio mesmo", contesta Izadora.
Criminalização da pobreza
Para a advogada, a motivação de intervenções estatais como essa seguem um padrão.
"Usam o argumento de combate à criminalidade e de guerra às drogas para seguir exterminando a população periférica, o povo negro. E foi isso que aconteceu", diz.
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O "suspeito", conhecido como Will e morador da Ocupação Valdice Teles, estava comemorando o aniversário de sua mãe quando foi morto.
Segundo o MTST, Will trabalhava com conserto de celulares e era pai de duas crianças.
"É a prática da ação policial, fundada no racismo, numa abominação da pobreza. Não tem outro nome senão a criminalização da pobreza, a criminalização das lutas", diz Brito, ao repetir: "Não tem outro nome..."
Edição: Rebeca Cavalcante