O percentual das famílias que têm dívidas com pagamento atrasado bateu novo recorde em maio, de acordo com Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Dados do mês passado indicam que 28,7% das famílias têm contas atrasadas. Este é o maior índice desde que a pesquisa começou a ser realizada, em 2010.
Em abril, o percentual de inadimplentes era de 28,6% –ou seja, 0,1 ponto percentual mais baixo. Há um ano, em maio de 2021, o índice era de 24,3% –4,4 pontos a menos.
“As famílias estão enfrentando dificuldades para honrar suas dívidas no mês, pois já estão com o orçamento muito apertado não só por conta das dívidas, mas também pela inflação ao consumidor acima dos 12% anuais”, informou a CNC, sobre o índice.
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Ainda segundo a pesquisa da CNC, em maio, 77,4% das famílias tinham dívidas a pagar. São consideradas na pesquisa contas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo, prestação de carro e de casa.
O percentual está 0,3 pontos percentuais abaixo dos 77,7% em abril, recorde da série histórica iniciada em 2010. Porém, é mais 9,4 pontos maior do que o de maio de 2021, há um ano.
Segundo a CNC, a ligeira queda na quantidade de famílias endividadas está ligada a uma redução na quantidades do que têm contas a pagar e renda familiar mensal de até 10 salários mínimos (R$ 12.120). Dentre essas famílias, no entanto, é maior o percentual dos que têm dívidas atrasadas e não têm condição de pagá-las: 13,1%, segundo a pesquisa.
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O índice geral dos que não terão como pagar suas dívidas ficou em 10,8% em maio. Em abril, era 10,9%; em maio do ano passado, 10,5%.
Segundo o economista e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), André Roncaglia, o endividamento das famílias tem crescido no Brasil por três motivos: queda da renda, aumento dos preços e alta dos juros. “Famílias estão se endividando para pagar contas de energia, de combustível e alimentos”, afirmou.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que um trabalhador brasileiro ganha hoje, em média, menos de R$ 2.600 por mês. Isso é menos do que há dez anos. A taxa básica de juros da economia, a Selic, está em 12,75% ao ano –o triplo da do ano passado. Já a inflação acumulada em 12 meses supera os 12%.
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Marcio Pochmann, que também é economista e professor, ratificou que famílias têm se endividado para arcar com suas despesas diárias. Com isso, segundo ele, elas ficam reféns da "financeirização" da economia nacional, perdendo recursos para bancos.
“Como no Brasil não há lei que estabeleça limite máximo de juros, o endividamento serve para transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos”, disse.
Edição: Rodrigo Durão Coelho