Por volta das 23h50 desta quarta-feira (17), segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um homem fez disparos de arma de fogo de dentro de um carro na direção da portaria do Acampamento Marielle Vive. A ocupação, onde vivem cerca de 450 famílias, fica em Valinhos, município do interior paulista conhecido por seus condomínios de luxo.
De acordo com o MST, no momento dos tiros havia várias pessoas no local, mas todos se protegeram e ninguém se feriu. "Se tivesse alguém mais próximo da portaria certamente teria sido alvejado, os tiros foram próximos e danificaram a porteira do acampamento", relata nota do movimento.
Gerson Oliveira, da coordenação estadual do MST em São Paulo, classifica a situação como "bastante grave" e cita que outros tipos de intimidações contra os acampados, como xingamentos, se tornaram mais frequentes.
"Estamos avaliando que a situação está bastante crítica e seguirá daqui para frente. Porque reflete o início oficial da disputa das eleições. Cada vez que saem as pesquisas, principalmente apontando uma possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno, se intensificam esses ataques", descreve.
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"Estamos na mira dos fascistas, dos bolsonaristas, dessas pessoas que nos veem com incômodo, que nos veem como quem eles precisam eliminar nessa disputa", diz Oliveira. "E que agem nas sombras", complementa.
Constância de atentados
Essa é a terceira vez que o Acampamento sobre um ataque com o mesmo padrão. Em 10 de abril, em menos de 24 horas houve dois ataques assim: disparos feitos de dentro de um carro contra a portaria do Acampamento. Na ocasião, um foi durante a madrugada, às 3h20, e o outro, às 19h20.
Boletins de ocorrência e até reunião na Delegacia entre os acampados e o secretário de Segurança Pública do município, Osmir Aparecido Cruz, se seguiram aos episódios. No entanto, a descoberta da autoria, da motivação e, principalmente, a não repetição dos atentados, como evidenciam os fatos, não foram alcançadas.
Em nota, o MST destaca que "as autoridades competentes e a Secretaria de Segurança Pública não revelaram a conclusão das investigações sobre esses ataques, sendo que a via pela passam esses atiradores é amplamente monitorada". A inércia das instâncias estatais, para o movimento, é conivência.
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Em nota ao Brasil de Fato, a prefeitura de Valinhos - sob gestão da capitã da Polícia Militar Lucimara Godoy (PSD) - informou que a Guarda Civil Municipal e as polícias civil e militar não acusaram registro do atentado. Informou, ainda, acompanhar "de perto" questões sociais envolvendo o tema da habitação.
"Recentemente, por determinação do Ministério Público, a Prefeitura de Valinhos, por meio da secretaria de Assistência Social, providenciou o levantamento da situação das famílias que residem no acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Marielle Vive", disse a gestão municipal, citando que também fornece, periodicamente, água potável.
"Importante lembrar que a questão habitacional é um dever do Estado e direito de todos. Porém, é fundamental o apoio dos Governos Federal e Estadual sobre a questão. O município já tem demandas de Saúde e Educação além dos limites legais impostos", afirma a Prefeitura de Valinhos.
A Delegacia da Polícia Civil de Valinhos disse não estar sabendo do novo atentado e não ter informações sobre as investigações dos anteriores.
"Deveria ser uma coisa rápida identificar o carro e o condutor que está passando na frente do acampamento e desferindo esses tiros. Já foram entregues cápsulas e uma série de informações para a polícia. Mas não apuram ou não revelam quem são as pessoas cometendo esses crimes", denuncia Gerson Oliveira.
O Acampamento Marielle Vive
A área foi ocupada em 14 de abril de 2018, exatamente um mês depois da execução da vereadora do PSOL cujo nome, em homenagem, batiza também o acampamento. A propriedade, antes ociosa, é reivindicada pela Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários.
O despejo dos moradores do Acampamento Marielle Vive - que ali criaram uma escola popular e uma horta agroecológica de mil metros quadrados - é iminente.
As 450 famílias se somam às outras 142.385 que, de acordo com a Campanha Despejo Zero, correm o risco de perder o teto assim que, em 31 de outubro, acabar a vigência da decisão do STF que proíbe as remoções forçadas no país.
Edição: Nicolau Soares