A nova presidenta da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, disse em entrevista ao jornal Valor Econômico que o banco deve atuar pela redução das taxas de juros dos empréstimos e financiamentos concedidos no país. Segundo ela, essa é a função de um banco estatal, como a Caixa, num cenário de crédito escasso e taxas altas.
"O papel dos bancos públicos, de fato, é atuar como política anticíclica", disse ela, na entrevista publicada nesta quarta-feira (22).
Serrano ressaltou que a Caixa não vai abrir mão de sua rentabilidade para agir de tal forma. Afirmou que a legislação e regras de governança proíbem esse tipo de atuação.
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Ela explicou, porém, que, havendo espaço para corte de juros, a Caixa pode fazê-lo. Isso tende a pressionar outros bancos a fazerem o mesmo por conta da concorrência.
"Nada que dê prejuízo para o banco será feito, mas dentro de uma política de concorrência, vale a concorrência. Não é isso que os liberais pregam? O mercado?", afirmou.
Serrano foi nomeada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a chefia da Caixa, da qual é funcionária desde 1989. Ela também já foi presidenta do Sindicato dos Bancários do ABC Paulista entre 2006 e 2012. Desde 2014, ela é conselheira eleita pelos empregados no Conselho de Administração do banco estatal.
Lula tem reclamado dos juros no Brasil porque, segundo ele, eles limitam o crescimento. As críticas do presidente estão voltadas principalmente ao Banco Central, que define metas para a taxa básica de juros (Selic) – hoje, em 13,75% ao ano.
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Serrano afirmou que a Selic neste patamar é prejudicial à Caixa. "Com uma taxa de juros alta, uma das mais altas do mundo, você penaliza a Caixa, que é voltada para o desenvolvimento do país, e os clientes. Quando vou ofertar habitação, por exemplo, é mais cara com essa taxa de juros", explicou.
Cobrança sobre privados
Ela disse que não existe problema no fato de o banco buscar lucros e, ao mesmo tempo, colaborar com o crescimento do país. Cobrou, inclusive, que os bancos privados façam o mesmo. "Não existe dicotomia. Inclusive os bancos privados deveriam ter um compromisso com o país, investindo no desenvolvimento", disse.
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Serrano reclamou na entrevista do uso eleitoreiro da Caixa durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Disse que o banco concedeu R$ 7,6 bilhões em empréstimos consignados vinculados ao Auxílio Brasil às vésperas do segundo turno. Afirmou, inclusive, que a Caixa não deve mais oferecer esse tipo de crédito, mesmo após mudanças nas regras dele anunciadas pelo novo governo.
"[A Caixa] não vai aderir. Com as novas regras, a operação não se paga", afirmou. "Além disso, esse produto teve um cunho eleitoral, a Caixa foi o banco que mais ofertou crédito, com R$ 7,6 bilhões. É uma excrescência. Não posso ofertar crédito em um auxílio para uma pessoa se alimentar. Na minha opinião, isso tem de ser anulado."
Serrano também afirmou que qualquer ideia de privatizar a Caixa ou partes dela estão descartadas. "O desenho que estava colocado no governo anterior era vender todos os ativos, ou abrir capital das subsidiárias, e havia uma discussão de abrir o capital da própria Caixa. Isso não existe mais."
Edição: Nicolau Soares