SÉRIE CARRINHEIROS

Baixo preço de materiais recicláveis acentua pobreza no Bolsão Formosa, em Curitiba (PR)

SOS Combate à Fome e FORT realizam entrega de capa de chuva para carrinheiros em Curitiba

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Carrinheiros que moram no Bolsão Formosa protestam sobretudo contra o preço dos materiais - Pedro Carrano

Rosane Fonseca Lima vive com o marido na vila Maria e Uberlândia, no bairro Novo Mundo, em Curitiba (PR). Moradora ao lado da antiga associação de moradores, que hoje está fechada, o que traz dificuldades, Rosane e sua família se dividem em duas casas com dez pessoas ao todo.

Moradora há vinte anos na comunidade, que fica na abrangência do chamado Bolsão Formosa, numa área ainda sem escritura da casa e regularização fundiária, a moradora foi infectada durante a pandemia de covid-19, o que causou sequelas e limitou ainda mais suas atividades.

Na condição de trabalhadora carrinheira, que separa os materiais coletados pelo marido, Rosane aponta, assim como vários outros trabalhadores, que o preço do material reciclável está muito baixo. Na renda mensal, Rosane completa a renda como beneficiária do Bolsa Família.

Doação

Esse segmento de trabalhadores carrinheiros recebeu, na semana passada, a doação de capa de chuva para o trabalho na rua, ação que já havia sido feita na Vila Torres, na vila Pantanal (Alto Boqueirão) e Moradias Iguaçu III, no bairro Ganchinho.

A iniciativa partiu da campanha SOS Combate à Fome, dirigida pelo padre Redentorista Joaquim Parron, e pela Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT).

Ao todo, cerca de 50 carrinheiros foram beneficiados na região conhecida como bolsão Formosa, que abriga ao menos cinco associações de moradores.

Apesar da cultura organizativa em associações, ainda é um desafio para os carrinheiros se associarem enquanto trabalhadores, e não venderem individualmente a força de trabalho para os barracões da região, que impõe um preço cada vez mais baixo pela força de trabalho desses trabalhadores de rua.

Gleides Luciana trabalha desde 2006 carregando o carrinho e entregando o material em barracão na rua Baldur Magnus Grubba, na chamada Ferrovila, paralela à rua João Bettega. Vive ali mesmo, num quarto no local. “Dependo do material que ganho, trabalhando de domingo a domingo", narra.

Juarez Sandeski é educador popular, com experiência de trabalho com os carrinheiros na Vila Torres, e integrante do FORT. Para ele, o carrinheiro de rua vende para o atravessador, "por um preço muito baixo mesmo. O material das associações tem preço melhor, mas o catador de rua é uma exploração muito grande. O quilo do PET é vendido por menos de um real, o catador de rua já traz o material praticamente separado", aponta.

Francesca, seis filhos, vivendo hoje com dois deles em casa, é trabalhadora carrinheira há dez anos, sem receber nenhum benefício social, e coincide também com a dificuldade de reunir material e conseguir um preço justo. Afirma que o que recebe “dá para comprar a mistura”.


Peso na balança dos barracões: cada vez mais quantidade, cada vez mais barata / Pedro Carrano

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lucas Botelho