RECONHECIMENTO

Frei Betto é homenageado em Cuba

'Frei Betto é um símbolo da nossa amizade entre Brasil e Cuba', afirmam na embaixada do Brasil em Havana

Brasil de Fato | Havana (Cuba) |
Frei Betto com estudantes de medicina brasileiros e colombianos em Cuba, durante sua homenagem em Havana. - Brasil de Fato

"Frei Betto é um símbolo da nossa amizade entre Brasil e Cuba. É por isso que, depois de uma carreira tão longa e importante em diferentes áreas, como a defesa dos direitos humanos e as lutas sociais, além de suas batalhas na literatura e seu trabalho jornalístico, decidimos organizar esta homenagem aqui em Cuba", conta Mário Araújo, escritor e Conselheiro Cultural da Embaixada do Brasil em Cuba, para o Brasil de Fato

Nascido em Minas Gerais, em 25 de agosto de 1944, a vida de Carlos Alberto Libânio Christo, mais conhecido como Frei Betto, é um testemunho vivo de uma luta incansável pelos direitos humanos e pela construção de uma sociedade mais justa. Em 1964, com apenas 20 anos de idade e sendo estudante de jornalismo, ingressou na ordem dominicana. Naquele mesmo ano, a ditadura militar o prendeu e torturou pela primeira vez. Essa foi a primeira de uma série de perseguições que Frei Betto sofreria durante a ditadura devido à sua luta pela democracia e em favor dos mais pobres.    

Seguidor dos ensinamentos de Jesus Cristo, "um político perseguido que deu a vida em favor dos pobres e enfrentou o poder do seu tempo", nas suas próprias palavras, Frei Betto se vinculou desde cedo à teologia da libertação e ao trabalho de base dos movimentos sociais. Relação que mantém até hoje. 

Próximo ao aniversário de 80 anos de Frei Betto, a Embaixada do Brasil em Cuba, em parceria com o Centro Memorial Martin Luther King - associação cubana de inspiração cristã dedicada à educação popular - realizou uma série de eventos em Havana em sua homenagem. Celebrando a amizade com Cuba que Betto vem construindo desde 1980, ano em que conheceu pessoalmente Fidel Castro.   

Entre as atividades realizadas, foi apresentado o filme A cabeça pensa onde os pés pisam, um filme de Evanize Sydow e Américo Freire, na Universidade de Havana, instituição onde Frei Betto recebeu a distinção de Doutor Honoris Causa em Filosofia em 2015. No Museo de Bellas Artes, foi exibido o filme Batismo de Sangue, do diretor Helvécio Ratton, inspirado no livro homônimo de Frei Betto, publicado originalmente em 1983.

Com a presença de Américo Freire, A cabeça pensa onde os pés pisam, foi exibido pela primeira vez na ilha.  O filme explora o diálogo entre Frei Betto e o método de educação popular sistematizado por Paulo Freire. Conta a história de sua breve, mas intensa, experiência no teatro, como assistente de direção de Zé Celso Martinez Corrêa, e como ele utilizou essa experiência, usando técnicas e encenando peças, durante os anos de prisão com presos comuns. 

O filme acompanha a vida de Betto após sua mudança para uma favela e em sua colaboração com movimentos sociais, incluindo sua cooperação como educador popular em Cuba, trabalhando com o Centro Memorial Martin Luther King. Uma experiência onde cursos de educação popular foram realizados junto a ativistas de base e altos funcionários do governo, como o próprio presidente cubano Miguel Diaz Canel, que é entrevistado no documentário.   

No final da projeção, que contou com a presença de vários embaixadores e autoridades políticas, o próprio Frei Betto agradeceu aos presentes "não tanto pela minha pessoa, mas pelo alcance social e político desta obra. Neste filme, não vejo apenas a minha história. Vejo a história de uma luta em condições muito mais difíceis do que as que estamos atualmente vivendo".  

Em tom emocionado, comentou que "sua esperança é que hoje, na democracia, podemos ter movimentos sociais, sindicais e políticos. Mas, infelizmente, não temos a mesma mobilização que tínhamos antes, e isso me preocupa".   


Frei Betto recebe o reconhecimento da Universidade de Havana / Brasil de Fato

Em entrevista ao Brasil de Fato, Américo Freire afirmou que "Frei Betto é um homem de trânsito. Ele consegue circular nos meios religiosos, sociais, políticos, intelectuais e culturais. É uma pessoa que está em constante movimento e tem uma capacidade de articulação muito importante. Com o nosso trabalho, tentamos captar um pouco dessa originalidade." 

Américo Freire conta que já na infância, em sua casa, tinha livros de Frei Betto. Cartas da Prisão era um livro que circulava em sua família. Isso despertou a curiosidade de Américo Freire. "Queria saber o que era ser revolucionário e cristão", diz.   

"Penso que a sua presença em Cuba é muito importante. Betto é um revolucionário, mas traz outras perspectivas, outros pontos de vista, que ajudam a oxigenar os debates dentro da própria revolução. É uma figura inquieta e essa inquietude ajuda a movimentar. E as revoluções têm que se mexer, porque se não, estagnam", afirma.

Edição: Rodrigo Durão Coelho