Inferno

Diretor de hospital em Gaza acusa Israel de torturar detentos 'praticamente todos os dias'

Mohamed Abu Salmiya estava preso por Israel sem acusações desde outubro; após ser solto, ele denunciou 'graves torturas'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |

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O médico Mohamed Abu Salmiya foi libertado nesta segunda-feira - Bashar TALEB / AFP

Israel vem torturando física e psicologicamente palestinos detidos desde 7 de outubro em bases praticamente diárias. A acusação foi feita nesta segunda-feira (1) por Mohamed Abu Salmiya, diretor do hospital Al Shifa, da Cidade de Gaza.  

"Os prisioneiros são submetidos a todo tipo de torturas, atrás das grades. É quase diária, as celas são abertas e os prisioneiros, espancados", disse ele em uma coletiva de imprensa. 

O médico, preso em outubro, afirmou que foi detido "sem ter sido acusado". Após a libertação, Salmiya afirmou que foi submetido a "graves torturas" durante sua detenção e que sofreu uma fratura em um polegar.

"Muitos presos morreram em centros de interrogatório e foram privados de alimentos e remédios. Durante dois meses, os detentos só comeram um pedaço de pão por dia", disse, antes de mencionar que eles foram submetidos a "humilhações físicas e psicológicas".

'Abrir espaço'

Israel "libertou dezenas de detentos da Faixa de Gaza, incluindo o doutor Mohamed Abu Salmiya", através de uma passagem de fronteira ao leste de Khan Yunis, informou uma fonte médica do Hospital dos Mártires de Al Aqsa, na cidade de Deir el Balah, no centro do território. 

Cinco palestinos libertados foram internados neste centro médico e os demais foram transferidos para hospitais de Khan Yunis, segundo a mesma fonte.

O serviço de segurança interna de Israel, o Shin Beth, afirmou em um comunicado que recebeu a solicitação, ao lado do Exército, de "libertar dezenas de prisioneiros para abrir vagas nos centros de detenção".

Muitos em Israel são contra libertar prisioneiros palestinos, mesmo tendo sido presos sem acusação. A agência israelense afirmou que se "opõe à libertação de terroristas" que participaram em ataques contra civis e decidiu libertar "vários detentos de Gaza que representam um perigo menor".

"A libertação do diretor do centro médico Shifa em Gaza, com dezenas de outros terroristas, é uma renúncia à segurança", escreveu o ministro israelense da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, na rede social X.

Mulher e criança mortas

No norte da Cisjordânia ocupada, uma criança e uma mulher foram assassinadas nesta segunda-feira (01) em um ataque israelense, disse o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina, que governa este território. Além das duas mortes, "outros quatro cidadãos foram feridos pelas balas da ocupação [Israel] em Tulkarem", afirmou o ministério em comunicado, que não identificou os falecidos até o momento.

Israel não comentou a acusação. O Crescente Vermelho palestino tratou três feridos após “o ataque das forças de ocupação ao campo de Nur Shams”: um jovem por “golpes violentos” e duas mulheres, de 48 e 68 anos, por ferimentos causados por estilhaços de obuses, que fazem parte da arilharia pesada de Israel.

Já a Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, tem registrado um aumento na violência desde 7 de outubro. Cerca de 600 palestinos foram mortos por soldados ou colonos israelenses.

Gaza bombardeada

Israel também bombardeou o sul da Faixa de Gaza nesta segunda-feira (01), depois que tropas palestinas lançaram uma série de projéteis contra alvos israelenses, após quase nove meses de guerra. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse no domingo que suas tropas travam "uma dura batalha" no território palestino.

As Brigadas Al Quds, o braço armado do grupo militante Jihad Islâmica, afirmaram nesta segunda-feira que lançaram uma onda de foguetes contra Israel, "em resposta aos crimes do inimigo sionista contra o nosso povo palestino". 

O número de mortos por Israel desde 7 de outubro se aproxima dos 38 mil, a maioria, mulheres e crianças. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho