'Frente republicana'

Contra extrema direita, esquerda e liberais se unem em mais de 200 distritos na França

Candidatos em 3º lugar se retiraram da disputa; ideia é impedir que extremistas consigam eleger primeiro-ministro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
Na França, o poder é dividido entre o primeiro-ministro e o presidente - AFP

Na França, mais de 200 candidaturas, entre liberais e de esquerda, foram retiradas do segundo turno do pleito legislativo que ocorre no próximo domingo (7), segundo levantamento da agência de notícias AFP. A medida visa impedir a formação de uma maioria parlamentar de extrema direita e a consequente eleição de um primeiro-ministro que dividiria nos próximos anos o governo com o presidente Emmanuel Macron.  

A eleição parlamentar francesa acontece em dois turnos. Cada um dos 577 distritos elege um representante por maioria simples. Se um candidato conseguir 50% + 1 dos votos, não acontece um segundo turno neste distrito. No próximo domingo, aconteceriam mais de 300 segundos turnos com três candidatos ou mais.

A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e a aliança de centro-direita do presidente Emmanuel Macron reativaram a chamada "frente republicana", e abriram mão de seus candidatos em terceiro lugar para tentar isolar a extrema direita e impedir sua vitória em cada distrito ainda em jogo. 

Na prática, com poucas exceções, se um candidato de centro ficou em terceiro lugar, ele deve se retirar para apoiar o segundo colocado de esquerda, e vice-versa. Das 214 renúncias registradas, 127 são de candidatos de esquerda e 81 da aliança de Macron. Seis candidatos de outros partidos tambéms desistiram.

O partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, e seus aliados venceram o primeiro turno em 30 de junho com um terço dos votos e podem, segundo as projeções, alcançar uma maioria absoluta de 289 deputados. 

Aposta arriscada. E perdida

Com o voto não obrigatório, a França obteve o maior comparecimento às urnas em 40 anos, de quase 67% dos eleitores. O resultado desfavoreceu bastante Macron, que convocou eleições antecipadas após sua chapa ter sido derrotada pela extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu, em junho.

O analista Pablo Ibañez, professor de geopolítica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ) disse ao Brasil de Fato que esta foi uma ideia arriscada e que Macron deve ser derrotado também no segundo turno. "Macron vai sofrer uma derrota acachapante aí porque os dois pólos ficaram em primeiro lugar. A reestruturação com essa nova liderança pelo Reagrupamento Nacional, com Marine Le Pen e o [Jordan] Bardella [líder da extrema direita], está de fato conseguindo transformar essa nova forma de se colocar para a sociedade francesa de maneira clara, de maneira eficiente."

Ele enumera possíveis motivos para ascensão direitista. "A extrema direita francesa conseguiu colocar uma liderança jovem, carismática e menos assertiva sobre questões mais delicadas, como xenofobia etc.. Ainda que se mantenham como lideranças que têm essa perspectiva, ele [Bardella] conseguiu se mostrar um candidato mais palatável, mais aceitável", diz. "São anos de um cansaço da sociedade francesa que agora se refletiu de maneira muito clara nas urnas."

A decisão arriscada de Macron - de convocar eleições na esperança que os eleitores rejeitassem em massa a extrema direita - não só põe em risco os assentos da sua coligação no Parlamento, mas também ameaça a estabilidade política e as perspectivas futuras do seu projeto político durante os restantes três anos do seu mandato presidencial.

A possibilidade de “coabitação” no governo, fenômeno que ocorreu três vezes no século passado, representa um desafio significativo para o presidente em exercício. A necessidade de estabelecer negociações constantes para evitar bloqueios governamentais torna-se uma prioridade, uma vez que está em jogo a estabilidade social do país.

Edição: Rodrigo Durão Coelho