A metodologia de produção que pressupõe, entre outras coisas, a distribuição da renda e o respeito à natureza, além da convivência entre animais e culturas agrícolas, está sendo institucionalizada e corrompida. Essa é a visão de Peter Rosset, da equipe técnica internacional da Via Campesina. Ele é um dos mais de 200 participantes da Conferência Internacional da Reforma Agrária, em Marabá (PA), que tem como um dos eixos de debate a agroecologia.
Para Rosset, o momento é de reafirmar essa metodologia agrícola como alternativa para enfrentar a agricultura industrial. Segundo ele, a agroecologia está em uma encruzilhada.
"Pela primeira vez, há uma institucionalidade [dessa área] pela FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura], pelas empresas, pelos institutos de pesquisas. Foi uma coisa que buscamos por muito tempo, mas que, agora, representa uma ameaça. Porque essa agroecologia [defendida por esses setores] é muito fraca, só técnica. A ideia é usá-la como ferramenta para fazer um pouco mais sustentável o agronegócio, o modelo dominante da agricultura industrial e, obviamente, para nós, isso não serve", afirma.
A oposição entre projetos é o que marca o debate em torno dos modelos agrícolas, define Rosset. "Nós queremos a agroecologia como parte da disputa territorial entre a agricultura camponesa e a industrial. "Para nós, ela [agroecologia] é uma alternativa ao agronegócio, Ee à monocultura industrializada em grandes extensões. Então, agora, temos que defender nosso conceito como parte da ideia da reforma agrária popular, da terra como território dos povos", argumenta.”, argumenta.
Organizações do campo
Rosset participa da Conferência Internacional da Reforma Agrária, que ocorre em Marabá (PA), entre os dias 13 e 17 de abril, com representações de organizações de diversos países, como Brasil, Índia, Roménia, Equador, Guatemala, Costa Rica etc.
Entre as entidades participantes está a organização da qual Peter faz parte, a Via Campesina, que reúne movimentos populares e entidades de trabalhadores do campo de todo o mundo. "A Via Campesina é um grande diálogo de saberes. Juntamos aqui agricultores, camponeses, povos sem-terra, povos indígenas, pescadores artesanais da África, da Ásia, das Américas, da Europa e do Oriente Médio. Cada um aportando seus conhecimentos, sua maneira de ver o mundo, sua cosmovisão. E, desses diálogos, surgem novas ideias, novas concepções, novas maneiras de ver o mundo, novos métodos para a luta contra o capital em nível internacional", define.
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