20 anos do massacre

20 anos do massacre: Acampamento em Eldorado dos Carajás debate novas lutas

Nos últimos sete dias, a juventude debateu a conjuntura e se apropriou da história de revoltas sociais

Eldorado dos Carajás (PA) |
Mística de encerramento no acampamento pedagógico
Mística de encerramento no acampamento pedagógico - Gisele Brito

Durante sete dias, cerca de 1.000 jovens camponeses de várias partes do país se reuniram no acampamento Oziel Alves Pereira, na Curva do S na BR 155, em Eldorado dos Carajas (PA). Neste mesmo local, há exatos 20 anos, 19 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram mortos, no episódio conhecido como Massacre dos Carajás.

Esse acampamento, classificado como "pedagógico", acontece há dez anos e é instaurado como um "parimento” da juventude que o organiza e ocupa. "A gente costuma dizer que é como se a classe trabalhadora nascesse de novo, com a nossa postura e o nosso compromisso de continuidade da luta", explica Vanessa Sousa, que faz parte da coordenação estadual do MST-PA e é uma das coordenadoras do acampamento. Esta é a quarta vez que ela participa do acampamento, instalado todos os anos entre 10 e 17 de abril, desde 2006.

Formação política

As atividades com a juventude incluem debates sobre a conjuntura social, política e econômica, e sobre a história de processos revolucionários e de revolta social, como a Cabanagem, a Revolução Cubana e a Guerrilha do Araguaia. "As pessoas chegam aqui, ouvem sobre isso e começam a se questionar: 'Por que eu nunca ouvir falar disso antes?' O simples fato de se falar em público em uma assembleia já é muito forte, porque há muito silenciamento", exemplifica a jovem paraense.

Os acompamento também é um espaço em que os jovens desenvolvem sua própria estética de luta, com tambores, cores e performances típicas da juventude. "A gente afirma que somos agitadores sim, obrigado. Que é possível se divertir na luta", completa.

Para os participantes, o acampamento tem o papel de intensificar a memória dos mortos e criar novas lideranças para os embates. "Especialmente nesse momento da conjuntura política, a juventude tem que se preparar e se posicionar no confronto da luta de classes, na luta pela igualdade, pelos direitos e pelas novas relações de gênero. O acampamento pedagógico é como se fosse o parimento e forjamento de direção jovem", pondera Vanessa.

Memória

Além do acampamento sazonal, há um monumento na Curva do S, erguido pelo próprios sem-terra para lembrar dos mortos e de seu legado para a luta. São doze castanheiras mortas, cravadas ao lado da estrada.

Oziel, que dá nome ao acampamento, foi um dos assassinados no Massacre de Carajás. Ele tinha 19 anos e era o responsável pela agitação do carro de som da marcha. Os outros 18 mortos e 69 feridos foram alvejados na multidão, Oziel, no entanto, foi sacado do meio do povo, posto de joelhos e com uma arma apontada em sua cabeça policiais questionaram se ele teria coragem de repetir o mesmo que dizia no carro de som. "E ele gritou: 'MST a Luta é pra valer'. A Juventude projeta a nossa luta", afirma Charles Trocate, dirigente do MST-PA.

Trocate enfatiza que o massacre não foi o único na história da luta dos trabalhadores do campo e da cidade, mas deixou como legado o desenvolvimento do MST no Estado e em todo país. ”Ele não atacaram trabalhadores isoladamente. Atacaram um movimento social organizado”, pontua. Na época do massacre, Trocate militava há quatro anos no MST. Hoje, é um dos dirigentes ameaçados de morte no Estado.

”Sempre querem matar o sonho, a esperança, a ousadia, a indignação, a rebeldia, a solidariedade. Nosso compromisso é estar em alerta permanente em todo o país. Esse acampamento foi pensado para nos colocar em alerta para o que der e vier. Para que possamos cumprir nosso papel na história", enfatiza Vanessa. 

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