“Hoje se fala em corrupção no governo, mas R$ 1,2 trilhão do rombo é de devedores, empresários que devem para a União e que já estão sendo executados. Nós com R$ 200 bilhões resolvemos o problema da reforma agrária no Brasil”. A afirmação é do superintendente do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes, que na última quinta-feira (14) esteve em Quedas do Iguaçu, região centro-sul do Paraná, em ato de imissão de posse de fazendas que serão desapropriadas para fins de reforma agrária.
Em assembleia com 75 famílias que ocupam a fazenda Três Elos - umas das áreas que será desapropriada e onde se encontra o Acampamento Che Guevara, organizado pelo MST-, Bezerra falou do atual momento de atentado contra a democracia e de tentativa de um golpe com o processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT). “Por que vocês acham que existe essa elite raivosa num país que melhorou sua qualidade de vida, que melhorou a economia e onde os capitalistas ganharam muito dinheiro e se beneficiaram com essa política econômica? Por que toda essa raiva e vontade de mudar o que está aí? A resposta é porque existe discriminação”.
Os anseios da burguesia nacional, segundo Bezerra, têm sido cada vez mais reverberados no Congresso Nacional e nas assembleias legislativas que conta cada vez menos com representantes da classe trabalhadora. “Por que, de 513 deputados, temos poucos representantes no Congresso que apoiam a reforma agrária? Por que na Assembleia com 54 estaduais temos quatro ou cinco ligados à classe trabalhadora? Porque a maioria é ligada a latifundiários, pois são financiados por eles”.
Concentração de poder
Apesar das dificuldades e enfrentamento dos setores conservadores da sociedade, o superintendente do Incra afirma que a reforma agrária tem avançado no Paraná. “Nós estamos buscando as terras de grandes devedores, nós estamos assentando famílias onde existiam latifúndios. Atualmente temos 328 assentamentos no Paraná e isso incomoda muita gente, incomoda associações comerciais, a federação da indústria, porque tudo isso está ligado. Está incomodando ver essa piazada chegando na universidade. Sou filho de camponês e fiz agronomia, mas na minha época eu era uma exceção. Hoje isso é comum, hoje tem cota racial, tem cota para escola pública e isso deixa a burguesia louca”, citou.
Bezerra afirma que o Incra está enfrentando uma das maiores injustiças do Estado do Paraná e do Brasil, que é a grilagem de terra. “Vivemos num Estado conflituoso de mais de 100 acampamentos, mais de 10 mil acampados, porém estamos conseguindo na base da negociação e diálogo construir a reforma agrária. Ela representa distribuição de renda, por isso ela é tão combatida, porque uma das grandes injustiças deste país é a concentração de terra, que significa concentração de poder. A elite se incomoda porque tudo isso atinge um projeto de poder, pois concentração de terra e renda se traduz em projeto de poder”, conclui Nilton Bezerra.
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