A Câmara dos Deputados se exibiu no domingo (17) aos olhos de todo o país. A nação ficou chocada, atônita, sem acreditar no que se revelava na sessão que decidia a abertura do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. O show de horrores da atual e majoritária composição desta legislatura ficou transparente. Uma maioria retrógrada, ou seja, conservadora, e comprometida com interesses outros que não os da sociedade, como há muito denunciávamos.
A parte machista, misógina (que alimenta o ódio contra as mulheres), preconceituosa e conservadora, lamentavelmente dominante, mostrou seu lado mais perverso ao gritar “sim” no palco cenográfico bancado pelo presidente Eduardo Cunha. Empurrões, cotoveladas, xingamentos, palavras de baixo calão e até referências a torturadores se misturaram à santíssima trindade: família, religião e propriedade. Prevalecendo a última.
Ulysses Guimarães costumava dizer que, a cada legislatura, o Congresso piorava. Uma consequência direta de nosso desgastado sistema eleitoral. Isso se deve muito à forma de financiamento de campanhas por empresas, que sufocou a possibilidade de uma verdadeira representatividade. Com muito esforço ela foi banida a partir das eleições deste ano. Além dela, a criminalização da política, bancada pelos grandes meios de comunicação, ajudou a fortalecer o falso “voto útil”, onde candidatos sem base social foram arremessados à Brasília.
A farsa do impeachment, que chamo de golpe, foi tocada por parlamentares envolvidos até o pescoço em denúncias de corrupção. Levantamento do Tribunal Superior Eleitoral mostra que mais de 70% dos deputados réus ou condenados criminalmente optaram pelo impeachment de Dilma. Dos 23 investigados na Operação Lava-Jato, 17 deputados disseram “sim” ao golpe.
Nesta trilha, se articula a anistia de Cunha. Quanto ao vice-presidente Michel Temer, já se sabe que tentará diminuir os direitos trabalhistas, autorizar privatizações e desvincular o orçamento da saúde e educação. É o fim de um projeto popular.
Com o cenário dantesco (infernal) montado, resta ao povo fortalecer as mobilizações de rua contra o processo no Senado Federal. Enterrar por lá esse impeachment ilegítimo e covarde. Não se pode aceitar que uma conspiração de corruptos afunde nossa democracia e marque a História com tanto cinismo.
Jandira Feghali é médica, deputada federal (PCdoB/RJ) e vice-líder do governo na Câmara Federal
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