A paralisação da Reforma Agrária levou dezenas de camponeses do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a ocupar a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Rio de Janeiro.
Falta de estradas, energia elétrica, transporte coletivo, assistência técnica para o cultivo e créditos para financiar os pequenos produtores são os principais problemas enfrentados por trabalhadores rurais dos assentamentos da reforma agrária.
A camponesa Luzia Marques de Oliveira, de 44 anos, foi beneficiada com um pedaço de terra da reforma agrária, na região de Macaé, há um ano. Feliz por ter onde plantar, ela agora diz que precisa de condições mínimas para trabalhar. “O assentamento Osvaldo de Oliveira, onde moro, precisa de um plano de manejo. Porque nós respeitamos as regras ambientais e tem certas áreas que precisamos aprender como trabalhar a terra”, diz a assentada. Por isso a importância da assistência técnica. Isso melhoraria a produtividade e ensinaria aos camponeses como proteger as áreas de fragilidade ambiental.
Luzia também fala da situação precária da rede elétrica, das estradas e da falta de transporte. “Temos muitos cortes de energia. Na maior parte do tempo ficamos sem luz. E quando precisamos ir à cidade temos que andar mais 12 km”, diz a camponesa. Sua pele queimada do sol e mãos calejadas não escondem o esforço de uma vida de sacrifícios.
Desde a segunda-feira (18) passada os trabalhadores rurais ocuparam o Incra, no Centro do Rio, e reivindicam uma série de melhorias, principalmente de infraestrutura no assentamentos e linhas de crédito. Na última quarta-feira (20), realizaram uma roda de negociação com a superintendente do Incra, Maria Lúcia Pontes.
Essa ocupação faz parte de uma série de lutas feitas nesse mês pelos integrantes do MST. “Abril é o mês de luta camponesa em memória dos 20 anos do massacre de Eldorado dos Carajás. Essa foi uma das maiores chacinas da história da luta no campo”, explica a dirigente estadual do MST no Rio de Janeiro, Elisângela Carvalho.
Durante a ocupação, localizada na Avenida Presidente Vargas, uma das mais importantes vias do Centro do Rio, também foram realizadas manifestações em defesa da democracia. Preocupados com a situação política do país, os integrantes do MST criticaram os políticos de oposição que tentam derrubar o governo da presidente Dilma Rousseff.
“Nós viemos protestar contra a demora da reforma agrária, mas também contra a tentativa de golpe. Vivemos um momento muito delicado no país e estamos lutando para não haver retrocessos e perda dos direitos dos trabalhadores. Por isso estamos aqui, para defender a democracia”, destaca Elisângela Carvalho.
Outra preocupação é o aumento da violência do campo. “Há pouco tempo tivemos dois companheiros assassinados no Paraná. Em Campos, no Norte Fluminense, em 2013, mataram Cícero Guedes, integrante do MST. É também por eles que estamos aqui, pela memória dos nossos companheiros tombados”, afirma a dirigente.
Edição: ---