Quando a Câmara dos Deputados aprovou a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, os parlamentares fluminenses tiveram grande peso no resultado da votação. Ignorando as multidões nas ruas que disseram não ao golpe, a maior parte da bancada eleita pelo Rio de Janeiro, formada por 46 deputados, disse sim, somando 34 votos a favor e apenas 11 contrários.
Entre os favoráveis ao impeachment estão os deputados eleitos com maior número de votos nas últimas eleições: Jair Bolsonaro (PP), Eduardo Cunha (PMDB), Marco Antônio Cabral (PMDB), Pedro Paulo (PMDB), Roberto Sales (PRB) e Otavio Leite (PSDB). Clarissa Garotinho (PR), que também havia declarado voto a favor, estava ausente da sessão devido à licença-maternidade.
O resultado contrariou projeções feitas antes da votação. Para o cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Victor Leandro Gomes, alguns deputados alteraram seus votos no decorrer da sessão para ficar do lado de quem estava ganhando.
“É um efeito manada e mostra que a preocupação dos deputados não é a Constituição, mas sim seus interesses individuais. Outros movimentos ardilosos foram tramados também para influenciar no resultado final, como o prefeito Eduardo Paes liberar seus secretários para votarem pelo impeachment. Foi como um jogo de xadrez. Estava tudo arquitetado”, afirma, destacando que Dilma não está ligada a nenhum episódio de corrupção. “Não há motivos para tirá-la da presidência. Depois dessa votação ficou claro que não é preciso cometer crime de responsabilidade para destituir um presidente no Brasil, basta o parlamento não ter simpatia por ele. Isso é muito perigoso”.
Porém, alguns dos deputados cariocas que disseram sim ao impeachment estão envolvidos em grandes escândalos. Pedro Paulo é acusado de agredir a ex-mulher. Eduardo Cunha é réu em processo do Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de desvio de milhões de dólares em contas na Suíça. Otávio Leite também é réu em processo do STF, investigado por crime eleitoral. Jair Bolsonaro, por sua vez, tem inúmeros processos judiciais em andamento, sendo acusado de homofobia, racismo, agressão, além de vários pedidos de cassação do mandato no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Durante a sessão que votou pelo impeachment, Bolsonaro acumulou mais um processo ao exaltar Carlos Brilhante Ustra, um dos mais sangrentos torturadores do regime militar. A Ordem dos Advogados do Rio (OAB-RJ) declarou que vai ao STF para pedir mais uma vez a cassação do deputado federal. “É crime condecorar um torturador confesso responsável por tantas mortes e atrocidades. Foi um dos momentos mais constrangedores da história da república brasileira. É lamentável que o estado do Rio tenha dado tantos votos a esse homem”, afirma Victor Leandro.
REFORMA POLÍTICA
Para o cientista político, a única saída para a atual crise está nas ruas. “Em exercício está o congresso mais conservador dos últimos tempos. O futuro é sombrio. A reforma política é o caminho que temos que percorrer, pois essa forma de fazer política chegou no limite. Porém, não podemos esperar que essa reforma seja conduzida por um congresso que aprovou um golpe. A população precisa gritar alto e com mais ênfase do que já está gritando. Temos que lutar nas ruas pelo estado democrático de direito”, conclui.
Edição: ---