Habitação

Comunidade de 50 famílias da Olaria, no Rio, está ameaçada de despejo

Primeiros ocupantes do conjunto habitacional chegaram há mais de 50 anos

Rio de Janeiro |
Famílias lutam contra despejo em Olaria, zona norte do Rio
Famílias lutam contra despejo em Olaria, zona norte do Rio - Alexandre Auler

Segunda-feira (18) foi um dia importante para os moradores da Ocupação Roseli Nunes, em Olaria, zona norte do Rio. Estava marcada mais uma ordem de despejo contra seus moradores. Na última sexta-feira (15), um grupo desses ocupantes protestaram em frente à sede do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no centro, para exigir que o Judiciário tome uma medida que impeça o despejo das cerca de 50 famílias que moram nos imóveis.

Um deles é o músico Tuninho, de 75 anos, que há mais de 30 anos mora em um dos apartamentos. Ele lembra que após a morte da pessoa que se apresentava como o dono dos imóveis, os apartamentos estão abandonados desde o ano de 1986. Em vida profissional, Tuninho já tocou com artistas como Alcione, Nelson Gonçalves e Caubi Peixoto. Hoje, o guitarrista afirma não ter alternativa para onde ir. “Minha preocupação é minha família. Nós não temos para onde ir e nem conseguiríamos pagar aluguel”, revelou o músico destacando que ganha apenas um salário mínimo de aposentadoria.

Resistência

Não é a primeira vez que uma ação de despejo ameaça a tranquilidade dos moradores da Ocupação Roseli Nunes. Em fevereiro deste ano, a comunidade acordou cercada por policiais e segundo os ocupantes, a ação não foi realizada pois não foi apresentada a escritura do imóvel pela parte que pede o despejo das famílias. “É um absurdo que a gente sofra um processo e não saiba quem está movendo esse processo contra a gente. Nós temos o direito de ficar aqui. Quem cuidou desse lugar fomos nós”, contou Marcos Paulo, de 35 anos, que vive com sua família em um dos apartamentos há mais de 16 anos.

Ligada à Frente Internacionalista dos Sem Teto (FIST), a ocupação vem resistindo desde 2007 às tentativas de despejo, quando a polícia chegou pela primeira vez para retirar os moradores. Josina Bezerra, de 33 anos, denuncia o drama vivido ali. “Nunca mostram pra a gente a escritura. Não sabemos quem é o dono daqui. Nós precisamos de ajuda para ficar aqui. Somos pais e mães trabalhadores que não sabem o que vão fazer se o despejo ocorrer”, denunciou. 

Ao lado de sua neta e de seu esposo, Maria Rita, aos 59 anos, promete resistir para conquistar de forma definitiva sua casa e cobrou mais empenho dos órgãos públicos para resolver a situação dos moradores. “Isso aqui tudo era abandonado antes. Nós vamos resistir até o fim. Seria importante que a Defensoria Pública do Rio nos ajudasse de forma efetiva a lutar para conquistar nosso lugar”, desabafou a moradora.

Briga judicial

Na semana passada, os advogados da FIST entraram com um novo pedido para suspensão da ordem de despejo. “Entramos com um pedido de suspensão. A juíza responsável pelo caso respondeu ao pedido afirmando que vai julgar em até 15 dias. Impossível esperar esse prazo, já que a desocupação está marcada para esta segunda (18)”, contou, ao Brasil de Fato, André de Paula, advogado e coordenador da Frente Internacionalista dos Sem Teto.

Outro lado

Segundo o advogado das pessoas que movem a ação contra os moradores da ocupação, a briga judicial vem desde 2001. “Não é verdade que o imóvel estava abandonado. O que ocorreu foi que os antigos inquilinos deixaram de pagar o aluguel e depois os imóveis foram ocupados. Dessa forma, os proprietários ficaram impedidos de acessar os imóveis. É uma reintegração que já deveria ter ocorrido antes”, afirma André Chateaubriand. Ele nega a possibilidade de existir algum acordo entre as partes do processo.

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