A chamada bancada BBB – de boi, bíblia e bala – teve papel decisivo na votação da admissibilidade do impeachment na Câmara dos Deputados. Formada por evengélicos, ruralistas e defensores do endurecimento da legislação penal e da liberação do uso de armas, essa “frente” busca agora se aproximar do vice-presidente Michel Temer (PMDB).
O peso dessa articulação se fez notar durante a votação do último dia 17. Entre os religiosos o placar foi 163 x 24 (uma proporção de 6,7 a 1) a favor do impeachment, enquanto entre os defensores da bala foi 245 x 47 (5,2 a 1). A média geral da Casa foi de 2,6 a 1.
Por conta disso, tais setores já cobram maior espaço em um possível governo Temer, além de apoio às suas pautas e no avanço de sua agenda.
“Já fomos até ele e sugerimos que crie uma interlocução oficial com a bancada BBB. Ele tem que entender que não é só interlocução com os líderes partidários que adianta”, afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), tesoureiro da Frente Parlamentar Evangélica, ao jornal Estado de S. Paulo.
Segundo Cavalcante, a bancada se posicionou a partir da pressão de lideranças religiosas, como Silas Malafaia (Assembleia de Deus), Edir Macedo (Igreja Universal) e Valdomiro Santiago (Igreja Mundial do Poder de Deus).
Retrocesso
Os representantes de discursos de endurecimento da legislação criminal, adversários dos setores que se articulam em torno das pautas de direitos humanos, vislumbram a possibilidade da idade penal ser reduzida e o Estatuto do Desarmamento ser revisto.
“É por isso que até agora não colocamos para votar essa questão do Estatuto do Desarmamento. Sabemos que na Casa passa, mas a presidente veta. Precisamos conversar mais com Michel para ter a possibilidade de fazer uma pauta positiva”, disse Alberto Fraga (DEM-DF), coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, também ao Estadão.
Elites
As propostas defendidas pelos setores do ruralismo no diálogo com Temer enfocam o agronegócio e o corte em programas de interesse dos movimentos populares camponeses, além do apoio à transferência do Executivo para o Legislativo da competência para demarcar terras indígenas no Brasil. As informações foram passadas ao Estadão pelo deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
Os empresários, por sua vez, cobram a flexibilização das leis trabalhistas e a questão da terceirização. “Ele tem que fazer reformas do ponto de vista da liberação da economia, como baixar juros, dar liquidez ao mercado, mudar a legislação trabalhista, que hoje é muito cara para empresas”, afirmou Danilo Forte (PSB-CE) ao jornal paulista.
Edição: ---