Mulheres de todas as idades, cores e classes sociais protestaram, nessa quarta-feira (27), contra a mídia machista que insiste em enquadrá-las em um padrão de comportamento ultrapassado, como fez a revista Veja com Marcela Temer, ao se referir a ela como “bela, recatada e do lar”.
Cerca de cinco mil mulheres participaram do ato realizado em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de demonstrar indignação diante da onda conservadora da mídia, partidos de direita e do Congresso Nacional, em sua maioria.
Para muitas, esse ato foi como um grito de liberdade. “A gente quer ser livre. E essa visão da mulher bela e recatada faz parte dos séculos passados e vai contra tudo o que a gente acredita”, destaca a estudante secundarista Carolina Bastos, de 17 anos.
Silvia Mendonça, dirigente do Movimento Negro Unificado, uma das organizadoras do ato, ressaltou a importância de resistir aos retrocessos políticos impostos pelo Congresso Nacional. “Esse também é um protesto contra o impeachment, em defesa da democracia e a favor da punição de todos os deputados envolvidos em atos de corrupção”, destacou. Palavras de ordem contra o deputado federal Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foram ouvidas durante toda a manifestação.
“Em seu voto contra a presidente Dilma, Bolsonaro homenageou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Esse homem estuprou e matou nossas mulheres, assassinou nossos filhos e nossos homens. Bolsonaro não merece estar no Congresso”, protestou Silvia Mendonça.
Para a estudante de História Thaís Alvez, de 20 anos, que foi lá protestar, essa taxação de mulher “bela, recatada e do lar” afronta todas as mulheres. “A gente só quer ser o que a gente quiser. Nem recatada, nem puta. Sem estereótipos”, diz a universitária.
A forte presença de mulheres jovens no ato também chamou a atenção. Elas foram maioria na campanha que rolou nas redes sociais que ironizava a matéria publicada pela revista Veja, sobre Marcela Temer.
“A Veja fez essa matéria para contrapor a imagem de Dilma. Marcela é essa mulher que não participa da política, é bela e silenciosa. Quando a revista ressalta essa mulher ela está dizendo que esse é o modelo a ser seguido, que esse é o tipo de mulher aceitável para Brasil”, observa a estudante Thaís Alvez.
A matéria da Veja causou indignação em vários setores de mulheres, não somente as feministas. Uma delas é Sandra Carneiro, de 50 anos, comerciária aposentada. “A mulher tem que ir para rua, participar da política, lutar por seus direitos. Queremos igualdade, nem mais nem menos que os homens. Mas tem muita amiga minha que não concorda com isso, elas acham que eu devia estar em casa assistindo novela e não aqui protestando”, lamenta a aposentada. “Mulherada, nós precisamos nos unir mais”, completa.
No ano passado, o “levante feminino” contra o projeto de lei apresentado por Eduardo Cunha, que dificultava o acesso ao atendimento médico a mulheres estupradas, já tinha tomado as redes sociais e as ruas. E agora novos movimentos, como o #belarecatadaedolar, vieram com tudo para fortalecer a luta das mulheres.
Edição: ---