Transexualidade

Casa Nem: a preparada da Lapa, no Rio

Administrado por travestis e transexuais, o lugar mistura oficinas, shows, debates e transformação de realidades

Rio de Janeiro |
Gerida por travestis e transexuais, a Casa Nem vem abalando noites com festas e debates
Gerida por travestis e transexuais, a Casa Nem vem abalando noites com festas e debates - Alexandro Auler

Rua Moraes e Vale. Naquela estreita rua, os belos casarões ajudam a contar a história do bairro mais boêmio do Rio de Janeiro: a Lapa. Sem esquecer o passado, um conjunto de mulheres têm transformado o presente de muitas vidas. Gerida por travestis e transexuais, a Casa Nem vem abalando as noites com festas e os dias com diversas oficinais, debates e reuniões. Um espaço democrático que recebe a diversidade de braços abertos e onde o preconceito não pode entrar. Em todas as atividades, pessoas trans não pagam. 

A mineira Luciana Vasconcelos, de 36 anos, é uma das várias mãos que constroem a Casa Nem. Mulher negra e transexual, sua história com o projeto teve início ano passado, quando chegou para ser uma das alunas do “Prepara Nem”, pré-vestibular voltado a pessoas transexuais e em situação de vulnerabilidade social. Mais que uma das preparadas pelo cursinho, ela logo assumiu uma série de tarefas no grupo e foi uma das responsáveis pela consolidação da Casa Nem, em funcionamento há poucos meses. 

Luciana relembra sua primeira entrevista ao Brasil de Fato, em agosto de 2015. “Eu lembro quando falei com vocês pela primeira vez. Tínhamos muitos sonhos naquela época que agora conseguimos realizar. Agora já estamos sonhando com novos projetos para, mais do que transformar a vida das pessoas trans, disputar a sociedade e exigir nosso respeito. Hoje temos uma casa com vários cursos e vamos continuar correndo atrás de outros objetivos”, conta. 

Oficinas

Corte e costura, aula de libras (língua brasileira de sinais), capoeira, fotografia e história da arte são alguns dos cursos que já ocupam a programação da Casa Nem. E a tendência é só crescer e expandir. O Prepara Nem, pré-vestibular do grupo, teve início no centro do Rio e agora também tem aulas na zona oeste, na Favela da Maré e em Niterói. Para manter tudo isso, dezenas de professores voluntários e apoiadores dão seu suor para seguir adiante. 

Loira e jovem, Tertuliana Lustosa, de 19 anos, é uma das professoras de história da arte. Também mulher transexual, ela destaca a importância do espaço. “A gente começou o projeto com o pré-vestibular, mas não era suficiente. Agora nós temos uma casa que possibilita o acesso de pessoas trans ao que sempre nos foi rejeitado, como casa de festas e participar de oficinas. O que acontece aqui é uma rede de produção e é isso que ganhamos”, revela a docente. 

Poder trans

Histórica militante pelos direitos humanos, Indianara Siqueira é uma das idealizadoras dos projetos e lembra que a luta é para conquistar espaço na sociedade, que ainda desrespeita as pessoas trans. “Quando falamos que nós trans temos direito a falar, temos direito à política, quando a gente se empodera perante a sociedade, vamos conquistando nossos espaços. Uma vai empoderando a outra, como numa corrente, e aí teremos voz e elas se multiplicaram”, disse ao destacar que uma das estratégias para isso é a disputa do parlamento e do executivo. 

Para ajudar ao projeto, doações financeiras, móveis e alimentos podem ser entregues na sede da Casa Nem. 

 

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