Sindicatos

No Dia dos Trabalhadores, as cinco centrais sindicais da Argentina marcharão unidas

Nesta sexta (29), serão realizados atos unificados contra as politicas de ajuste do presidente Macri

São Paulo |
Os trabalhadores ocuparam as rua contra as políticas de ajuste e as demissões
Os trabalhadores ocuparam as rua contra as políticas de ajuste e as demissões - Notas.org.ar

Frente aos retrocessos sociais e trabalhistas sofridos na Argentina após da vitória de Mauricio Macri como presidente da República, as cinco entidade sindicais do país organizarão uma jornada de luta unificada em torno do Dia dos Trabalhadores.

Pela primeira vez, as três centrais sindicais peronistas com a sigla CGT (Confederação Geral do TRabalho), conduzidas por Hugo Moyano, Luis Barrionuevo e Antonio Caló, e as duas CTA (Central dos Trabalhadores Argentinos), lideradas por Hugo Yasky e Pablo Micheli, realizarão nesta sexta (29) um ato único contra as demissões massivas, as políticas de ajuste e por melhoras salariais.  

Apesar das divergências entre as entidades sindicais, espera-se construir mais atos em conjunto em todo o país, para demostrar a unidade e resistência dos trabalhadores frente ao avanço conservador do novo governo.

A agência de notícias argentina Notas.org.ar realizou uma série de entrevistas com líderes sindicais para analisar a atual conjuntura. Segundo Daniel Caetano, Secretario Geral da Seccional Capital da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), “há dias que sentimos o mesmo que em 2001, quando estávamos na rua, marchando, e as pessoas batiam palmas, nos alentavam. Hoje, estamos tendo essa mesma sensação”.

Confira a entrevista a completa:

Notas – Chegamos a um 1° de maio muito particular para a classe operária argentina e frente a uma mudança de etapa politica. Como avalia a situação dos trabalhadores neste momento?

Há um nível de preocupação muito grande tanto no setor público como no privado. Os trabalhadores chegam com a sensação de instabilidade e com muita força para se posicionar e avançar na segurança de suas fontes de trabalho. É um 1° de maio atípico, porque tem se demitido quase mil trabalhadores por dia. Contudo estamos vendo muita vontade de resistência e muita vontade de aguentar este momento histórico.

Fazendo um balanço da classe trabalhadora argentina, quais são os pontos positivos e quais ainda estão em divida?

Acho que os trabalhadores chegam com uma força que é a consciência de classe que é muito forte. Os trabalhadores estão muito mais politizados que em outros momentos. Há uma percepção do mundo e dos direitos que acho antes não se tinha. O que falta é a sindicalização. Todo esse volume político que traz os trabalhadores, ao não estarem sindicalizados, perde-se um pouco. O nível de compromisso é positivo, e o que temos que ver é como fazer para que isso ingresse dentro do âmbito sindical.

Como joga a unidade sindical neste momento?

A foto do dia 29 [de maio] é o que precisamos para dizer ao governo que há pelo menos dois ou três eixos que todos nós concordarmos. Depois, a unidade é uma construção que requer do dia a dia, de um compromisso e de uma disposição das cúpulas das centrais. 

Acho que os trabalhadores tém mais resolvido esse assunto. Há dois níveis: um é o que passa com o trabalhador e o mundo do trabalho, que claramente precisam da unidade. O outro é o que passa nas cúpulas sindicais que tem que ser ainda mais trabalhado.

Um desafio do povo trabalhador passado o fim do século 20 e princípios do século 21 têm a ver com a disputa pelo sentido. A luta não é só nas ruas e nos postos de trabalho, mas também pela significação dos conflitos gremiais. Como você avalia este aspecto?

A sociedade hoje está acompanhando. O que percebemos na rua quando estamos mobilizando é que há um acompanhamento. Há dias que sentimos o que sentíamos em 2001, quando estávamos na rua, marchando, e as pessoas batiam palmas, alentavam-nos. Hoje, estamos percebendo essa sensação. Estávamos no aeroporto ou cortando uma avenida, e as pessoas bancam porque sabem que eles podem estar neste lugar em qualquer momento.

O nível de insegurança laboral é tão grande que não há lugar pra ninguém te xingar, justamente o contrário. Esse governo tem gerado esta situação de tensão inclusive com quem votou eles ou que são parte desse projeto politico, que não pode justificar baixo nenhum pretexto o nível de despidos que estamos tendo.

Qual seria ou deveria ser o espaço dos projetos políticos nas organizações gremiais?

Parte do problema é que a política não tem sabido como ir acompanhando a construção sindical e a inversa, os grêmios não superam como acompanhar o rol da politica. Acho que tem que ir se ligando, tem que ter uma convivência. É o momento em que todos podem ceder um pouco e se refletir um no outro. Não se pode levar pra frente uma política sem levar em conta o lugar dos trabalhadores, que são quem em definitiva levam adiante o rol da politica.

Temos que encontrar o jeito para que isso possa funcionar, já que isso é algo que, nestes anos, não se conseguiu. Temos que resolver.

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