A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, cidade da Baixada Fluminense, suspendeu as aulas por um dia nesta quarta-feira (27) com um motivo: o Dia de Luto e Luta pela vida das mulheres e pelo fim da violência. O dia sem aulas foi uma conquista do movimento feminista Me Avisa Quando Chegar, formado por estudantes que lutam contra os casos de estupro ocorridos na Universidade. Com as aulas suspensas, o movimento realizou debates com mulheres e homens sobre o machismo na instituição e na sociedade.
As estudantes da Rural já lidam com o machismo desde quando entram na Universidade, no período de trotes e de festas. Mas, para a estudante de Educação do Campo Luana Vitorio, de 20 anos, o machismo está presente também nas salas de aula. “O machismo está na relação entre professor e aluna. Também está na forma como os funcionários nos tratam. Além disso, com a falta de segurança, e como não temos carro, corremos sempre o risco muito alto de sermos estupradas andando na faculdade”, diz a integrante do movimento.
Se ser mulher e universitária já é difícil, ser mãe pode prejudicar ainda mais a aluna que deseja continuar nos estudos. Suelem Predes, de 30 anos, estuda Geologia e tem dois filhos: Daniel, de 2 anos, e João Miguel, de 4. Para ela, o machismo também justifica a falta de estrutura na Universidade. “Não temos uma creche universitária. Isso é um problema para alunas e funcionárias que são mães”, diz Suelem.
Mulheres no trabalho
O machismo no mundo do trabalho também é um dos debates do movimento. Para a estudante de Geografia Maria Carolina Oliveira, de 19 anos, a mulher é inferiorizada nesse campo. “Um dos grandes problemas que eu vejo é achar que a mulher não vai ser capaz, não vai ter competência para executar algum trabalho simplesmente pelo fato de ser mulher. Não somos criadas para sermos líderes, e quando chegamos nesses cargos, isso incomoda”, opina a aluna.
Segundo ela, a opressão contra a mulher é maior quando ela é negra. “Temos duas opressões diferentes: o machismo e o racismo. Quando você encontra uma mulher negra, essas opressões se unem. Portanto, nós, mulheres negras, somos marginalizadas, estamos na periferia, e temos uma dificuldade maior de nos colocarmos no espaço de trabalho”, comenta Maria.
Por fim, a ativista também explica a ligação entre o machismo e o capitalismo. “De fato, a opressão contra a mulher surge antes do capitalismo. Mas acho que o capitalismo se apropria dessas opressões para intensificá-las e poder lucrar em cima delas”, completa.
Homens contra o machismo
Embora a luta contra o machismo deva ser protagonizada pelas mulheres, já que são essas que sofrem a opressão direta, é necessário incluir os homens nesse debate. Essa é a opinião da internacionalista e mestranda em Ciência Política Nicolle Berti, de 24 anos. “Acho que essas opressões não atingem só as mulheres, mas também os homens, de certa forma. Eles também têm essa carga de precisarem sempre ser muito másculos, ter que levar a comida para casa e não poderem ser frágeis. Portanto, debater o machismo com os homens é importante porque isso também os liberta”, justifica Nicolle.
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