No dia em que completou três semanas de ocupação por seus estudantes, o Colégio Estadual André Maurois recebeu a visita de diversos ex-alunos na última quinta-feira (5). Entre eles estava o cantor Evandro Mesquita, que viveu parte de sua vida naquele colégio. Na conversa, estava a lembrança da época da ditadura civil-militar brasileira. Daquela escola, muitos saíram para lutar pela democracia e derrubar o regime autoritário que durou oficialmente 21 anos.
Evandro Mesquita lembra que sua mãe, Samira Mesquita, foi uma das fundadoras do C.E. André Maurois e ali ganhou seu primeiro prêmio de música, ficando em segundo lugar. O colégio também foi o palco para as primeiras apresentações do poeta Chacal e dos cineclubes promovidos por Bruno Barreto, todos ex-alunos do colégio. “Eu sou totalmente favorável à luta dos alunos por melhoria nas condições de estudo, na melhoria das condições para os professores também. Estou muito emocionado de estar participando hoje desse movimento”, defende Evandro Mesquita.
Samira Mesquita foi lembrada por outra filha, Marina Mesquita, que também esteve na conversa com os jovens estudantes. “Sou filha de uma professora que trabalhou aqui na época da ditadura, quando o colégio sofreu uma represália porque sempre pregou o ensino aberto e democrático. Brigar pela educação sempre vale a pena. Não é uma invasão, é uma ocupação. O lugar é deles, dos alunos”, lembra Marina.
Resistência
O Colégio Estadual André Maurois tem recebido algumas ilustres visitas, como a cantora Marisa Monte, que se apresentou para os estudantes da ocupação na última segunda-feira (2). No entanto ali o protagonismo é dos bravos estudantes que lutam por uma educação de qualidade. Como numa luta, os problemas encontrados são grandes. Alguns dos principais obstáculos são, segundo eles, o Governo do Estado e a Secretaria Estadual de Educação.
Melhorias na infraestrutura, reforma de espaços pedagógicos e melhoria na qualidade da merenda são algumas das reivindicações exigidas pelos estudantes que já ocupam mais de 70 escolas por todo o estado do Rio.
“Esta é uma semana difícil, pois a Secretaria Estadual de Educação cortou o transporte dos alunos. É uma ironia o governo decretar férias quando os alunos querem vir para a escola. Aqui não é uma colônia de férias, estamos debatendo a melhoria da educação”, reclama o estudante do terceiro ano Edu Carvalho, de 17 anos.
Contextualizando
O movimento, liderado por alunos secundaristas, teve início no dia 23 de março deste ano, quando o Colégio Estadual Presidente Mendes de Morais, na Ilha do Governador, foi ocupado por alunos da própria escola. Além de reivindicarem melhorias estruturais nas unidades de ensino, o movimento também surgiu em apoio à greve dos profissionais de educação da rede estadual do Rio de Janeiro, paralisados desde o dia 3 de março.
Estado responde
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Educação informou que desde a última segunda-feira (2) cerca de 67 escolas ocupadas entraram oficialmente em recesso escolar. Afirmou ainda que buscará atender algumas reivindicações do movimento de ocupação das escolas, dentre elas: eleição direta para diretor; nenhuma disciplina com menos de dois tempos; fim do Programa de Bonificação por Resultados; e cada professor ensinando em apenas uma escola.
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