Ativistas de movimentos negros, de cultura da periferia e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) promoveram, nesta quinta-feira (26), um debate sobre a relação entre o “Estado e a Cultura” no espaço cultural Funarte, na região central de São Paulo. A Fundação Nacional de Artes está ocupada por artistas e ativistas culturais desde o dia 17 de maio, e são constantes as atividades propostas pelos manifestantes, que vão desde apresentações artísticas até formações políticas.
A mesa formada pela dançarina Gal Martins, que integra o GAP (Grupo de Articulação Política Preta), por Elaine Mineiro, do Movimento Cultural das Periferias, e Ana Chã, do coletivo de cultura do MST, propôs olhares politizados para as discussões sobre cultura realizadas na ocupação. A ideia era mostrar a ausência do Estado, que mesmo durante os anos de governo petista, se manteve distante das periferias e do meio rural.
Para Ana Chã, as ocupações têm cumprido um importante papel nas discussões sobre a cultura e o golpe em curso no país. “A gente não pode estar nas trincheiras da luta, seja pelo campo, seja contra o capital, sem entender os meios de propagação de ideias dos setores hegemônicos da sociedade”, disse.
Ana explicou que a política de cultura do Estado brasileiro para o campo chega aliada a empresas como a Monsanto (multinacional que detém o monopólio de sementes transgênicas) e “geralmente em regiões de interesse do agronegócio”, e não prioriza a formação de novos agentes da cultura, “já que as produtoras culturais são invariavelmente do eixo Rio de Janeiro e São Paulo”.
Cultura na Periferia
A dançarina Gal Martins lembrou que “não faz sentido algum discutir o golpe sem discutir o racismo estruturante da sociedade brasileira”, que está, segundo ela, em todas as camadas da produção cultural. “Quando negros são protagonistas na arte contemporânea? Quando fazemos esse tipo de arte as pessoas ficam indignadas: ‘porque vocês não fazem arte tradicional, não dançam Coco?’”, questionou Gal.
Gal e outros ativistas do movimento negro não se viam representados nas discussões políticas dentro da ocupação e criaram o GAP, que completa uma semana nesta quinta-feira. “O GAP vem pra discutir as questões negras na cultura, mas também quer mostrar o genocídio do povo negro nas periferias”, comentou a dançarina.
Para Elaine Mineiro, do Movimento Cultura da Periferia, “são pouquíssimas as inserções do Estado na cultura na periferia”. Ela aponta que “quando o Estado chega na periferia é por meio de equipamentos que não formam criativamente o negro, mas formam mão de obra em cultura, para aprender a parafusar iluminação, por exemplo”.
Elaine explica que o trabalhador da cultura na periferia “é praticamente um voluntário”. “A remuneração do artista não é prioridade e isso prejudica a formação de novos atores culturais”, ressaltou. Para ela, a formação só não é prejudicada ainda mais “pela maneira como os coletivos se relacionam nas periferias”.
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