Entrevista

Dilma: 'Cunha não só manda: ele é o governo Temer'

Em entrevista à Folha de S.Paulo, presidenta diz que não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha

Rede Brasil Atual |
Dilma: 'Impeachment abriu porta para política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto'
Dilma: 'Impeachment abriu porta para política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto' - Roberto Stuckert Filho/PR/fotos públicas

A presidenta Dilma Rousseff disse que o processo de impeachment aberto contra ela teve como objetivo paralisar as investigações da Operação Lava Jato e para ser posta em andamento uma "política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto". "Com cortes drásticos de programas sociais. Um programa que não tem legitimidade pois não teve o respaldo das urnas", afirmou Dilma à Folha de S.Paulo.

Dilma disse que o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é a pessoa central do governo interino de Michel Temer. "Isso ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura (deputado ligado a Cunha e líder do governo Temer na Câmara). Cunha não só manda: ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha." Para que o governo Temer seja viável, Dilma afirma: "Vão ter de se ajoelhar".

A respeito dos fatores que levaram ao seu afastamento, Dilma disse que o economista e prêmio Nobel Joseph Stiglitz fez um diagnóstico perfeito sobre o Brasil: "A crise econômica é inevitável. O que não é inevitável é a combinação danosa de crise econômica com crise política. O que aconteceu comigo? Houve a combinação da crise econômica com uma ação política deletéria. Todas as tentativas que fizemos de enviar reformas para o Congresso foram obstaculizadas, tanto pela oposição quanto por uma parte do centro politico, este liderado pelo senhor Eduardo Cunha".

A presidenta lembra das "pautas-bomba", com gastos de R$ 160 bilhões e diz que estava por trás disso a criação de um ambiente de impasse, propício ao impeachment. "Cada vez que a Lava Jato chegava perto do senhor Eduardo Cunha, ele tomava uma atitude contra o governo. A tese dele era a de que tínhamos que obstruir a Justiça."

Mas Dilma acredita na reversão desse processo. "Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade disseram que não estavam declarando (posição) pelo mérito. Então eu acredito. Sobretudo porque as razões do impeachment estão ficando cada vez mais claras. E elas não têm nada a ver com seis decretos ou com Plano Safra (medidas consideradas crimes de responsabilidade)", disse.

Traição

Dilma fala sobre a traição do vice Michel Temer como a pior de todas, e que ela não ocorreu no dia da votação do processo de impeachment, mas em março, "quando as coisas ficaram claríssimas". "Você sempre acha que as pessoas têm caráter. Eu diria que ele não foi firme. Tem coisas que você não faz."

Famosa por sua bravura, a presidenta disse que não chorou no dia em que foi afastada: "Eu não choro, não. Nas dores intensas, eu não choro. Cada um é cada um, né?".

Pato

Para Dilma, Temer deveria defender a volta da CPMF e lembra que seu governo defendeu a volta da contribuição "sem pudor". "Nós passamos um ano terrível em 2015 e fizemos todo o esforço para não ter corte em programa social. Nós nunca entramos nessa do pato "(símbolo criado pela Fiesp para protestar contra aumento de impostos). Aliás, o pato tá calado, sumido. O pato tá impactado. Nós vamos pagar o pato do pato, é?

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