"Minha voz será escutada./ Não me calo mais!/ E que todas as amarras,/ talvez que me prendiam./ Ficam para trás./ Pois minha força, não mais contida é Voraz!”. A poesia é de Cintia, de apenas 15 anos, estudante da Escola Estadual Antônio de Alcântara Machado, localizada no distrito de Sacomã, em São Paulo (SP).
Sua arte está no livro “Perifatividade nas escolas: A poética dos Direitos Humanos, volume 3”, uma coletânea de escritos de estudantes das escolas ocupadas em São Paulo e da categoria Educação de Jovens e Adultos (EJA), organizado pelo Coletivo Cultural Perifatividade. O lançamento da obra acontece neste sábado (4) e será na Casa de Cultura Chico Science, no Ipiranga, Zona Sul da capital (ver abaixo).
Logo nas primeiras páginas, o livro já expõe temáticas sérias: violência contra a mulher, racismo e preconceito com nordestinos. Cada um desses temas explica um pouco sobre a realidade da vida destes estudantes, conta Ana Fonseca, do Coletivo Perifatividade e uma das idealizadoras do livro. “Os primeiros textos são do [EMEF Luiz Gonzaga] Gonzaguinha e essa EMEF fica no Heliópolis [periferia de São Paulo]. Lá é um lugar que tem muitos nordestinos e muitos filhos de nordestinos”, relaciona a educadora. Já no caso do EMEF Olavo Fontoura, onde há estudantes lésbicas e uma transexual entre os alunos do EJA “a gente focou em homofobia e transfobia”, explica Ana.
Além livro, também foi produzido um documentário, que conta um pouco sobre o dia a dia das ocupações.
Ocupações
Entre as escolas visitadas e trabalhadas pelo coletivo para a construção do livro estão unidades que fizeram parte do processo de luta dos estudantes por melhorias na Educação no estado, e contra a chamada "reorganização escolar"proposta pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), que, no final do ano passado, resultou na ocupação de mais de 150 escolas.
Não à toa, a temática faz parte de várias colaborações para o livro.
Mas quem diria,/ Uma menina ocupar uma escola / Ela não tem medo de derrota/ Ela tem fé pra chegar na vitória / Ela ri, ela chora/ E aí garota, qual foi sua maior loucura/ -Foi ocupar uma escola / Dias de luta, dias de glória / -Eis aqui o que não termina,/ Apenas se inicia...
Rafaela B. (EE. Diadema – CEFAM)
Para a educadora, os jovens sempre tiveram potencial revolucionário. “Eles vieram e expuseram na cara de todo mundo ‘não, não é assim como vocês pensam’. “As ocupações mostraram que a luta autônoma dá certo. Fica como uma lição para a própria esquerda verticalizada, que nunca acreditou em luta autônoma, que nunca daria certo e eles provaram o contrário”, critica.
Serviço:
O que: Lançamento oficial de "Perifatividade nas escolas: A poética dos Direitos humanos, vol. III”.
Quando: Sábado (04) às 19h.
Onde: Casa de Cultura Chico Science: Av. Presidente Tancredo Neves, 1265 - Ipiranga (próximo ao metrô Sacomã), São Paulo – SP.
Onde comprar: Na página do coletivo Perifatividade
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