As especulações sobre se “Dilma volta” ou se “Temer fica” no Congresso Nacional beiram um clima da "boca-de-urna". Quatro frentes atuam para interferir na votação final. Uma é formada diretamente pelos aliados do governo provisório e faz de tudo para manter no mínimo 54 votos para sacramentar o impeachment. Outras três atuam pelo retorno da presidenta, mas mediante acordos e cálculos diversos.
Um desses grupos é integrado por senadores que topam mudar o voto com o argumento de que acataram apenas a admissibilidade do processo, mas não concordam que existam, efetivamente, indícios considerados suficientes para culminar no afastamento de Dilma Rousseff. Uma segunda corrente deixa claro que vai mudar de posição, mas por conta das últimas denúncias envolvendo caciques do PMDB, alegando estar decepcionados – quando o que se comenta é que estariam sendo pressionados por suas bases de apoio em seus estados.
Há o terceiro núcleo, formado por senadores que aceitam mudar de posição, mas mediante uma condição: que assim que retornar ao Palácio do Planalto, Dilma encaminhe uma proposta de emenda à Constituição (PEC) ao Legislativo para convocação de novas eleições presidenciais.
Por parte dos que querem derrubar o impeachment, os parlamentares que dizem que nunca se comprometeram com o afastamento, mas com a admissibilidade do processo e, por isso, agora vão mudar de posição somariam 11, conforme cálculos de integrantes do PT, PMDB, PSB e PDT ouvidos pela RBA.
Os que podem mudar seus votos, mas argumentam decepção com o governo Temer e são apontados como alvos de pressão por seus partidos seriam quatro (desses, dois podem ser incluídos no grupo anterior, e outros dois, apesar de tenderem a se posicionar dessa forma, não confirmaram se vão ajudar a derrubar o impeachment).
Se forem juntados os que aceitam fazer um acordo para votar em bloco pelo impeachment, sob compromisso de que a presidenta encaminhe a PEC de eleições diretas ao Congresso, parlamentares estimam que podem chegar a 14 os novos votos para barrar o afastamento – além dos 22 já obtidos na primeira votação.
O senador Roberto Requião (PMDB-PR), um dos primeiros a assumir o trabalho que está em curso para derrubar impeachment, provocou polêmica ontem (8) ao escrever em uma rede social que jantou com 30 senadores dispostos a se posicionar contra o afastamento – oito além dos já alcançados em 11 de maio. Dilma precisa de no mínimo 28 votos.
Requião, segundo parlamentares, esteve com a presidenta para levar detalhes da conversa que teria tido com os colegas. E afirmou que, além desses oito, outros seis senadores podem ser considerados, mas no caso de ser feito o acordo que leve a novas eleições.
Antonio Reguffe (sem partido-DF) e Roberto Rocha (PSB-MA) estariam nesse grupo. Mas há, também, os que já declararam que não aceitam acordo para votar contra o impeachment – independentemente de serem realizadas ou não novas eleições –, como é o caso de Cristovam Buarque (PPS-DF).
Processo sério
“O que eu defendo é que esse processo é muito sério para o país e, por isso, é necessário que cada um avalie melhor a forma como vai se decidir, porque para afastar a presidenta é preciso ter provas contundentes. Eu votei pela admissibilidade do processo para que as investigações fossem feitas, não pelo impeachment. Agora, se eu decidir que não houve crime por parte da presidenta Dilma, como estou achando, não vejo como tentar condicionar isso a algum acordo, vou lá votar contra e pronto. Não se trata de livrar a presidenta de um crime, mas avaliar se ela o cometeu ou não”, afirmou Cristovam.
Outros nomes que despertaram atenção nos últimos dias devido à possibilidade de mudarem de voto foram os dos senadores Roberto Rocha (PSB-MA) e Hélio José (PMDB-DF). Rocha não se posicionou a respeito, mas o que se comenta é que estaria sendo alvo de fogo cerrado entre os colegas da ala do partido que considera inconstitucional um afastamento com base nos argumentos apresentados.
Ele e a senadora Lúcia Vânia (PSB-GO) seriam os que estariam sendo mais bombardeados nesse sentido. Mas Lúcia Vânia estaria mais propensa a seguir orientações de políticos do seu estado pró-impeachment.
Ontem, ao se manifestar na comissão especial, durante a oitiva de testemunhas de acusação a Dilma Rousseff, a senadora limitou-se a perguntar se o procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Júlio Marcelo de Oliveira, achava que os decretos tinham contribuído para a situação de crise econômica do país. E logo em seguida disse estar satisfeita com a resposta.
A postura da parlamentar foi considerada sinal de que dificilmente mudará seu voto. A senadora, porém, foi contundente durante seu discurso no dia da sessão do Senado ao afirmar que estava votando para que as investigações sobre a presidenta fossem iniciadas e para que se pudesse avaliar “se seria ou não constatado o cometimento de crime de responsabilidade fiscal”.
Já Hélio José, senador de primeiro mandato, atrai holofotes por ser do PMDB. “O que eu vejo como problema de o Temer assumir o governo, de vez, é o compromisso que ele teve de assinar com os bandidos do Cunha e com o grande empresariado para chegar ao Planalto”, ressaltou, ao destacar que sua maior preocupação é com perdas para os servidores públicos, após os ajustes a serem feitos por Michel Temer.
Um voto que é dado como certo, mas que ainda não se manifestou oficialmente é o do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). Valadares é crítico do governo Dilma e votou pelo impeachment em maio. Ele tem se mantido reservado nas conversas sobre o assunto. Apesar disso, políticos próximos dizem que o senador admite mudar de posição, em resgate às lutas históricas do partido que integra.
Valadares teria votado pelo impeachment em solidariedade, justamente, à orientação nacional do PSB diante da posição da legenda de se afastar do governo Dilma. Mas estaria incomodado com a divisão cada vez maior dos socialistas e, por isso, tem demonstrado disposição por votar a partir dos seus ideais, conforme contou um parlamentar de seu estado.
Ajuda aos governadores
Por parte do governo Temer, o que se comenta é que as articulações, apesar das denúncias envolvendo caciques do PMDB, passam por conversas com senadores de legendas como PSD e PRB, para que não haja mudança de votos. Eles já contam com o apoio dos políticos do DEM e do PSDB.
Até a próxima semana, Temer recebe em audiências no Planalto vários governadores. E, dentre os itens da pauta, além de pedidos a serem resolvidos em cada estado, consta também o apelo do presidente em exercício para que os governantes estaduais peçam apoio aos senadores aliados.
Já por parte dos que são ligados ao PT, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à presidenta Dilma, o núcleo dos trabalhos está entre o PSB, o PDT (que fechou questão contra o impeachment) e alguns nomes dissidentes do PMDB. Um jogo duro, sem placar definido.
São mencionados como os nomes já confirmados (pelos senadores que se organizam para derrubar o impeachment) para mudar de voto (embora nem todos tenham confirmado) Acir Gurgacz (PDT-RO), Antonio Carlos Valadares, Cristovam Buarque, Romário (PSB-RJ), Antonio Reguffe, Hélio José e Roberto Rocha.
Também é levado em conta o ex-ministro de Minas e Energia, senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Braga se ausentou no dia 11 e foi um dos últimos peemedebistas a sair do governo. Ele tem sido procurado e seu interlocutores contam que "fará tudo" para não prejudicar a presidenta.
Há, ainda, neste placar, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que desta vez votará na sessão (na última, apenas presidiu). Renan vive fazendo discursos sobre respeito às instituições e às prerrogativas constitucionais. Mas um voto favorável a Dilma Rousseff não chega a ser esperado por parte dos aliados da presidenta.
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