Desde 12 de maio, quando Michel Temer assumiu a presidência interina, fortaleceu-se um movimento de rejeição ao novo governo golpista nas ruas. Desde então muitos vêm tomando ciência do potencial do golpe em “mexicanizar” nossa economia, isso é, transformar o Brasil num país de mão de obra barata, abertura comercial desenfreada, aumento das desigualdades sociais, privatizações e desmonte de políticas soberanas de desenvolvimento. Além disso, torna-se evidente que o golpe foi desferido por corruptos notórios visando paralisar as investigações contra a corrupção. A situação está tão instável que não se descarta que o Exército possa decidir mais uma vez tentar tomar o poder.
Neste momento delicado, setores da esquerda mostraram dificuldades em liderar a recomposição do campo político popular, comprovando um afastamento das bases e das raízes sociais, mesmo daquelas que estão sendo beneficiadas pelas políticas de emprego, salários maiores e transferências de renda. Ficou claro o resultado, por muitos dirigentes terem se voltado completamente para a política institucional, abandonando o trabalho na base da sociedade e deixando de acompanhar a evolução da luta contínua e diária da maior parte da população brasileira.
Apesar das esquerdas apresentarem sinais de desorientação e de falta de comando, quem resistiu com mais vigor ao golpe foi a Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular, bem como jovens e movimentos sem partidos. Suas mobilizações mostraram que são os embriões de uma nova organicidade da esquerda.
Para fazer frente à atual situação, temos que realizar uma retirada estratégica para manter e reorganizar forças, ganhar tempo, estreitar os laços com as bases sociais e afrontar a soberba da direita. A principal tarefa da esquerda é conseguir juntar todas as resistências ao governo Temer numa força política com unidade de ação. Claro que cada partido, cada movimento, cada organização tem suas pautas específicas, porém é preciso superar desavenças para que sigamos unidos em torno da palavra de ordem “fora Temer”.
Nesta linha, quem concordar com “fora Temer” deve ser bem vindo para ajudar a romper o cerco midiático da direita, desnudar o caráter neoliberal e entreguista dos golpistas bem como recuperar as bandeiras dos direitos econômicos, sociais e políticos do povo brasileiro. Grandes desafios que podem transformar a atitude de negação do golpe numa atitude de afirmação de um programa de reformas populares. E dessa forma avançar na reestruturação ideológica, organizativa e política da esquerda, capaz de enfrentar com sucesso os enfrentamentos entre as classes dominantes e os setores populares.
*Fernando Marcelino é da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - MTST de Curitiba.
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