Citado na operação Lava Jato, o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário (que substituiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário), Osmar Gasparini Terra, 66, é um médico conservador que tem uma trajetória política contraditória.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, no dia de sua posse, ele que garantiu que não irá reduzir as políticas sociais de sua pasta apesar do aperto no orçamento público. No entanto, avalia que é preciso coloca limites em programas sociais. “Temos que ver quem realmente precisa. Precisamos auditar o Bolsa Família e ver onde estão sendo colocadas as verbas do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar]”, afirmou.
Na mesma entrevista, informou que a fusão dos dois ministérios, Desenvolvimento Social e Desenvolvimento Agrário, foi uma ideia de Temer. “Fui convidado para assumir o Ministério de Desenvolvimento Social e, no meio da semana, o presidente resolveu juntar os dois, porque, a seu ver, o MDA também tem um papel social importantíssimo”. Por isso, afirmou que terá de fazer uma reengenharia.
Como deputado federal, assumiu algumas posturas reacionárias recentemente, como a elaboração do projeto do Lei que institui a internação compulsória dos usuários de drogas ilícitas, em tramitação no Senado. Ele também assinou, junto ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), um projeto que extingue o regime semiaberto nas prisões.
Mas nem sempre foi assim.
Luta contra a ditadura
Nascido em Porto Alegre, em 1950, Terra militou na política estudantil durante a ditadura na capital gaúcha, e chegou a coordenar o DCE Livre da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele pertenceu ao mesmo grupo de José Serra, com quem se exilou no Chile, em 1970.
Retornou do exílio antes da anistia e terminou a faculdade na UFRJ em 1977. Foi superintendente do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), no Rio Grande do Sul, no governo de José Sarney, em 1986. No mesmo ano, filiou-se ao PMDB, partido onde permanece até hoje, aliado ao grupo de Emilio Perondi e Eliseu Padilha.
Em 1992, elegeu-se prefeito de Santa Rosa, cidade do Noroeste gaúcho onde permaneceu até 1996. Antes, quando ainda era superintendente do Inamps, criou um serviço de atendimento médico aos acampados na Fazenda Annonni, primeira ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul.
Participou do governo Antônio Brito como coordenador de políticas sociais, e dos de Germano Rigotto e Yeda Crusius como secretário estadual da Saúde. Baseado no programa cubano Educa Tu Hijo, ele criou o Primeira Infância Melhor, no Rio Grande do Sul, cujo objetivo era atender crianças de 0 a três anos.
Seu grande mérito foi o de reduzir a mortalidade infantil para menos de 20 crianças por mil antes do primeiro ano de vida. Para a sua implantação trouxe médicos cubanos que treinaram os profissionais gaúchos neste programa interdisciplinar.
Denúncias
Conforme matéria do jornal O Estado de São Paulo, Terra pediu uma doação a OAS para o financiamento de sua campanha em 2014. Ele mesmo confirma o pedido de R$ 150 mil a empreiteira e que fez ligações a Léo Pinheiro para saber da propina. No entanto, afirma não ter recebido via caixa 2, pois a doação não aparece na sua declaração ao TSE.
Ele também está envolvido em denúncia do Ministério Público Federal por obstrução da Justiça quando era secretário da Saúde no Rio Grande do Sul por não ter informado, depois de cinco insistências, a situação da falta de medicamentos. Foi absolvido em 2011 pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, porque a secretária adjunta Arita Gilda Bergmann assumiu a responsabilidade pelo caso.
Reforma agrária
Segundo Terra, a reforma agrária é um processo de redução de pobreza em maior escala do que o Bolsa Família. Disse estar conversando com o Movimento Brasil Competitivo para que se realize uma consultoria para ajudá-lo. Espera transformar os bolsistas e agricultores familiares em empreendedores.
Extremamente arrogante e autoritário segundo alguns de seus colaboradores, Terra não admite discussão de suas posições. Afirmou já estar desenhando a composição do novo ministério onde pretende disciplinar os movimentos sociais no uso das verbas existentes.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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