Autoridades e um grupo de ONGs palestinas alertaram nesta segunda-feira (13) que Israel reduziu o abastecimento de água para diversas regiões palestinas na Cisjordânia desde o começo do mês, quando teve início o Ramadã, ritual religioso muçulmano que começou no dia 6 de junho. O governo israelense nega as acusações.
“As pessoas estão dependendo da compra de água de caminhões pipa ou de encontrar água de fontes alternativas, como riachos e outros pontos de abastecimento em regiões próximas”, disse na terça-feira (14) em entrevista à emissora Al Jazeera Ayman Rabi, diretor executivo do Grupo de Hidrologia Palestino — um consórcio formado pelas ONGs União dos Comitês de Trabalho Agrícola, Centro de Pesquisa de Terra e Centro de Desenvolvimento Econômico e Social da Palestina.
“Algumas famílias estão tendo que viver com dois, três ou dez litros de água per capita por dia”, ele afirmou.
A ONU recomenda que cada pessoa tenha acesso a pelo menos 7,5 litros de água por dia sob circunstâncias normais, mas em algumas regiões palestinas — onde as temperaturas atualmente ultrapassam 35oC — a quantidade mínima deve ser maior.
“Israel é responsável pelos cortes de água, visto que acordos assinados com Israel determinam claramente que a Mekorot [companhia estatal israelense responsável pelo abastecimento de água da região] deve abastecer as necessidades das áreas ao norte da Cisjordânia”, afirmou na segunda-feira (13/06) o prefeito da cidade de Jenin, Ragheb Al Haj Hassan, ao jornal Gulf News. Segundo ele, o abastecimento de Jenin foi cortado pela metade.
Procurada tanto pelo jornal britânico The Independent quanto pelo Al Jazeera, nenhum representante da Mekorot foi encontrado para responder aos questionamentos. Entretanto, um porta-voz do governo israelense falou nesta terça ao jornal britânico que “não há verdade” nas acusações de interrupção do abastecimento e que a falta de água em algumas regiões se deu por problemas técnicos com os canos.
“Algumas horas atrás, uma equipe da administração civil da Cogat (Coordenação das Atividades do Governo nos Territórios) fez reparos em um cano que estourou e acabou interrompendo o abastecimento para as vilas de Marda, Biddya, Jamma’in, Salfit e Tapuach. O fluxo de água já foi regularizado e está funcionando no momento”, disse o porta-voz.
“Israel permite que os palestinos tenham acesso a apenas uma fração dos recursos de água na região ocupada da Cisjordânia, com assentamentos israelenses ilegais recebendo um abastecimento quase ilimitado de água que permite aos colonos manterem jardins luxuosos e até piscinas privadas”, apontou Saleh Hijazi, pesquisador da Anistia Internacional nos territórios ocupados palestinos e em Israel, ao The Independent nesta quarta-feira (15/06).
“Água é um direito e uma necessidade básica. A Mekorot deve restaurar qualquer abastecimento que cortou dos palestinos e as autoridades de Israel deveriam acabar com suas políticas discriminatórias, levantando todas as restrições arbitrárias que atualmente impõem sobre o acesso de palestinos a recursos vitais”, argumentou.
O governo israelense controla todas as fontes de água potável na Cisjordânia e, segundo os Acordos de Oslo, deve permitir o acesso de pelo menos 20% para os palestinos. De acordo com um informe da ONU, os palestinos na Cisjordânia têm acesso, em média, a 60 litros água por dia enquanto colonos israelenses na região usam uma média de 700 litros durante o mesmo período. O Estado de Israel é acusado ainda de sequestrar caminhões-pipa dos palestinos e de impedir a construção de reservatórios que poderiam amenizar a escassez.
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