Longas jornadas de trabalho, metas abusivas, altos níveis de pressão, exposição vexatória da produtividade, falta de pausas ao longo do expediente. Estes são alguns dos motivos pelos quais 473 bancários de Curitiba entraram com processos trabalhistas contra o Itaú, entre 2011 e 2015. Para 97% deles, a gestão do trabalho ocorria com base em práticas de assédio.
Os dados são resultados da pesquisa realizada pelo Instituto Declatra em parceria com o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, divulgada neste mês. Ao longo de um ano, uma equipe multidisciplinar analisou as características dos auxílios-doença concedidos pelo INSS entre 2007 e 2013, 1.197 homologações de desligamento de trabalhadores do Itaú - ocorridas entre 2006 e 2014 -, e 1089 processos trabalhistas contra o banco realizados em Curitiba entre 2011 e 2015.
Entre as pessoas desligadas da empresa, 42% indicaram problemas de saúde, sendo a maioria mulheres, com 46,4%, enquanto homens foram 37,4% dos casos. Estresse (20,1%), ombros (16,9%), depressão (12,4), insônia (12,4) estão no topo das doenças identificadas. Critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS) serviram como base para a tipificação dos casos.
“A prática de assédio moral é estratégia de gestão de muitas organizações, que agem de maneira agressiva, humilhante e agride a dignidade. Esta pesquisa demonstrou com dados científicos o que vivenciamos no dia a dia”, garante Ana Fideli, secretária de Saúde do Sindicato dos Bancários. Segundo a dirigente, a pesquisa servirá de subsídio para as negociações com os patrões e para tornar público o adoecimento na categoria.
No Brasil
Os dados sobre auxílio-doença mostram a gravidade do assédio no ambiente de trabalho dos bancários em todo o Brasil: entre 2007 e 2013, 10,1% do total de afastamentos se deram por transtornos mentais, enquanto entre os bancários a porcentagem chegou 22,2%, segundo dados da Previdência Social e do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).
Entre 2009 e 2013, 36.698 bancários foram afastados por mais de 15 dias devido a doenças relacionadas ao trabalho. O número equivale a 10,2% do total de trabalhadores do setor bancário, e significa 600 funcionários de bancos afastados a cada mês.
O que é assédio moral?
“[...] é o tratamento vexatório, constrangedor ou humilhante, infligido ao empregado, por meio de insinuações, ameaças, insultos, isolamento, ou empecilhos ao adequado desempenho de tarefas, com fins persecutórios, que visam ao enquadramento do empregado, prejuízos funcionais (não progressão na carreira), ou sua saída da empresa”, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho – OIT, em publicação sobre discriminação no Trabalho.
Ana Fideli, secretária de Saúde do Sindicato dos Bancários, orienta os trabalhadores que sofrem assédio a buscarem apoio no sindicato da categoria. “O trabalhador não deve se calar, pois isso gera adoecimento”, garante. Segundo levantamento realizado pela Vagas.com, em 2015, 52% dos trabalhadores relatam já ter enfrentado assédio moral ou sexual no trabalho. Destes, 87,5% decidiram não denunciar.
Colaborou: Gibran Mendes
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