Ainda que os bolsos dos trabalhadores e das trabalhadoras indiquem o contrário, a inflação declarada pelo governo argentino é de somente 4,2% para o mês de maio. Os números oficiais foram indicadas pelo novo índice de Preços ao Consumidor (IPC), recriado pelo presidente Mauricio Macri após o órgão passar seis meses fora de atividade.
Enquanto o governo anunciava as cifras, na quarta-feira (15), milhares de pessoas protestaram em frente ao Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), no centro de Buenos Aires, para participar do lançamento da Campanha Nacional contra o Ajuste, que busca barrar o aumento do custo de vida no país. A Corrente de Organizações de Base La Brecha, a Frente Popular Darío Santillán (FPDS), a Esquerda Revolucionaria, a Frente pela Unidade Guevarista e outras organizações fazem parte desta iniciativa.
Situação econômica
Em apenas seis meses de governo, a investida de Macri contra os trabalhadores e os setores populares tem sido de tal magnitude que não é necessário um economista para captar a complexidade da situação. Desde o início deste mandato, foram mais de 150 mil demissões, um aumento de 375% na conta de água, 300% na de gás, mais de 400% em energia, 100% no transporte e, como contrapartida, os salários diminuíram frente à inflação, que oscila na casa dos 40%, segundo economistas. Além do fato das negociações salariais terem ficado longe desta porcentagem.
“O crescimento em 32% na pobreza se traduz em 1,4 milhão de novos pobres, 350 mil novos indigentes”, apontou Facundo Lovera, militante da FPDS, em conversa com a agência de noticias Marcha. “O governo continua com uma política que gera a demissão de 1 mil pessoas por dia, desde o começo de sua gestão”, acrescentou.
Sebastián Zubizarreta, da Corrente de Organizações de Base La Brecha, avaliou a situação pela qual passa o país sul-americano. “O contexto é claro, enquanto o governo continua precarizando nossas vidas, impondo tetos nas negociações salariais e aplicando altas tarifas que não nos deixam respirar, ele avança com medidas que favorecem os empresários amigos e as multinacionais”, declarou.
Organização
Diante desse quadro, a Campanha Nacional contra o Ajuste foi lançada, com milhares de pessoas que marcharam desde a Praça de Maio, no centro da capital argentina, até o instituto responsável pelos índices econômicos. Faixas e bandeiras ornamentaram o protesto, que distribuiu panfletos e passou sua mensagem através de carros de som. “Todos os dias vemos como os distintos governos – o nacional e os estaduais – vêm aplicando seus objetivos: governar para os ricos. Isto, na prática, é às custas do sofrimento das e dos trabalhadores”, denunciou Facundo Lovera, da FPDS.
Segundo ele, “para os e as trabalhadoras isto se traduz em que não podemos chegar ao fim do mês. Os custos de vida começaram a subir e não cobrimos nem a cesta básica”. O militante ainda relata que as dificuldades se expressam em todos os âmbitos da vida cotidiana: “não podemos pagar o aluguel nem os gastos em transporte para chegar ao trabalho, ou comprar os materiais escolares para nossos filhos irem à escola”.
Em um comunicado à imprensa, as organizações que compõem a campanha explicam que este processo de ajuste “combina-se com repressão às manifestações em diferentes pontos do país, como em Mendoza, Tierra del Fuego, La Plata, Santiago del Estero, ou como aconteceu com os trabalhadores de Cresta Roja [empresa avícola], entre outros exemplos”. “Esta política de criminalização dos protestos tem como objetivo calar o mal-estar social”, denunciam.
Entre as críticas dos manifestantes em relação ao ajuste fiscal, também está a de que as empresas de serviços seguem cobrando subsídios milionários, ou que as mineradoras e o setor agrário tivessem reduzidos seus impostos.
O que virá
O início do famoso “segundo semestre”, momento do ano em que o governo afirma que haverá uma inflexão para recomposição econômica, o que traria investimentos e prosperidade para o povo, mas que, em realidade, aprofundará as políticas de privilégio aos ricos já impulsionadas pelo “macrismo”.
Esta é a avaliação de Zubizarreta, da Organização La Brecha: “Para nós a situação é evidente, porque a cada dia ocorrem mais protestos, mais descontentamento. O ajuste afeta igualmente a todos os trabalhadores, e a forma de por freio é nos organizarmos e enfrentar o governo nas ruas, nos nossos postos de trabalho e com nossa militância diária”.
Por outro lado, os movimentos indicam que é necessário alcançar um compromisso que supere o mundo da militância e da política, e este é o desafio da Campanha contra o Ajuste. “Em todo o país crescem os protestos, e a proposta é organizar essa raiva e freiar o ajuste nas ruas”, expressam as organizações que convocam as mobilizações.
*Tradução: Maria Julía Gímenez
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