Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) foram pegos de surpresa na noite desta quinta-feira (16), por um violento ataque da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP) durante uma assembleia que decidiria se a reitoria da universidade seria ou não ocupada. O ataque, que durou cerca de duas horas, com direito a bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, aconteceu nos blocos K e L do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (CRUSP), desativados desde a construção da nova reitoria e terminou com cinco pessoas detidas.
“Tem crianças morando no CRUSP e jogaram bomba de gás inclusive no bloco das mães, onde moram as alunas com os filhos”, relata N., estudante de ciências sociais que pediu para não ser identificada, “alguns blocos estavam cheios de gás, estava sufocante”, completa a universitária.
A estudante conta que os portões ficaram fechados durante a atuação da Polícia Militar e qualquer pessoa que tentasse entrar ou sair do campus teria que passar pelos militares. "N." também explica que os policiais atiraram com balas de borracha dentro do conjunto residencial. Um vídeo divulgado por alunos mostra que algumas instalações nos corredores do prédio foram danificadas.
Os estudantes detidos foram levados para "detenção para averiguação" e soltos na mesma noite.
Em outro vídeo divulgado na página “Ocupa Letras USP”, no facebook, duas estudantes contam a repressão e explicam que a repressão se tornou comum neste mês de greve de estudantes, professores e funcionários da instituição. Elas explicam que algumas vítimas do gás se quer faziam parte do movimento grevista e que o ataque deixou “muitas pessoas passando mal”.
“Sai da minha casa”
Estudantes registraram o ataque da PM em fotos e vídeos. Em uma das gravações, é possível sentir o desespero dos estudantes durante a atuação da polícia enquanto gritavam “sai da minha casa” para os agentes militares, que respondiam com bombas. A universitária que gravou as cenas relata que o gás criou uma “cortina de fumaça” e impossibilitou a passagem de um bloco para o outro.
Veja o vídeo:
Em outra gravação, um estudante acompanha da janela de um prédio do Crusp a atuação da Polícia Militar e, com medo, tenta não deixar seu celular ser visto pelos policiais que atiram contra os estudantes na parte de baixo do conjunto habitacional.
Veja o vídeo:
Entenda o caso
Nesta quinta-feira, os estudantes que acompanham a greve dos professores e funcionários da USP, organizaram uma aula pública sobre o tema de cotas raciais na Universidade de São Paulo, que é uma das seis universidades estaduais que ainda não adotaram o sistema de cotas como política pública. Este tipo de atividade, aulas e debates, tem acontecido frequentemente durante a greve.
Após a atividade, os universitários organizaram uma reunião para decidir se haveria ou não a ocupação da reitoria. Um cordão de agentes da PM acompanhou os universitários. A assembleia terminou por volta das 21h, horário estipulada junto à PM para encerrar a ação, com a decisão de não ocupar a reitoria. Quando alguns estudantes tentaram ocupar os blocos K e L do CRUSP, a PM reagiu com bombas e gás de pimenta.
Outro lado
Por meio de nota, a USP disse que um grupo de manifestantes "com os rostos cobertos invadiu violentamente o prédio da Reitoria" e este mesmo grupo tentaria "invadir" o bloco K do prédio da Administração Central e posteriomente acabaram atacando guardas universitários. "Diante do descontrole e do risco postos pela situação, a Polícia Militar – um contingente que não incluiu integrantes da Polícia Comunitária – foi obrigada a intervir, contando com a autorização da Reitoria e o respaldo de decisão judicial, a fim de garantir a integridade física dos agentes da Guarda Universitária e a preservação do patrimônio público", explica a resposta da instituição.
Ainda segundo a nota, a ação truculenta da PM aconteceu porque manifestantes "reagiram" à PM jogando pedras e "objetos". Os agentes tomaram " providências exigidas pelas circunstâncias". Sobre a truculência da PM na ação, a USP afirma que irá tomar as "providências necessárias para a segurança de seus alunos e servidores, além do patrimônio público".
Até o fechamento desta reportagem, a Polícia Militar não havia respondido o contato da redação do Brasil de Fato.
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