O Reino Unido optou por deixar a União Europeia (UE), após 52% dos britânicos terem votado no "brexit" – acrônimo inglês formado pela união de "Britain" (Grã-Bretanha) e "exit" (saída) – no referendo realizado na quinta-feira (23).
Horas após a divulgação do resultado, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, anunciou nesta sexta-feira (24) sua intenção de renunciar em outubro.
Em declaração na porta da residência oficial de Downing Street, Cameron, que fez campanha pela permanência do Reino Unido no bloco, disse que o povo britânico se manifestou e essa vontade deve ser respeitada.
Também informou que as negociações com Bruxelas para estabelecer o processo de ruptura do Reino Unido da UE deverão acontecer com outro líder, que deverá ser eleito no próximo mês de outubro, quando será realizado o congresso do Partido Conservador.
"Agora que a decisão de sair foi tomada, precisamos encontrar a melhor maneira (para fazer isso)", disse Cameron, informando que o governo se reunirá na próxima segunda-feira (27).
Além disso, ele tranquilizou o Reino Unido e disse que não haverá "mudanças imediatas" no livre movimento de cidadãos, mercadorias e serviços.
"A vontade do povo britânico é uma instrução que deve ser cumprida. Eu quero o bem deste país e estou honrado por ter servido e vou fazer tudo o que puder no futuro para ajudar este grande país prosperar", afirmou.
"O Reino Unido é um país especial, temos tão grandes vantagens, uma democracia parlamentar na qual resolvemos os grandes problemas sobre nosso futuro através de um debate pacífico, uma grande nação comercial com nossa ciência e as artes", disse Cameron.
O Reino Unido deixará a União Europeia após 52% dos britânicos optarem pela ruptura, contra 48% que defendiam a permanência no bloco comunitário.
Os eleitores que deram o "sim" para a saída da UE chegaram a 17.410.742 votos enquanto os que defendiam a permanência somaram 16.141.241.
O presidente honorário do partido republicano da Irlanda do Norte, Declan Kearney, afirmou nesta sexta-feira que a vitória do "brexit" no conjunto do Reino Unido deve impulsionar a convocação de um referendo sobre a unidade da Irlanda.
Na Escócia, onde o "sim" para continuar na UE foi contundente, a ministra-chefe, Nicola Sturgeon, poderia impulsionar um segundo referendo pela independência como sugeriu durante a campanha.
O líder do ultradireitista UKIP (Partido pela Independência do Reino Unido), Nigel Farage, qualificou a data de hoje como "o dia da independência", e afirmou que se trata do triunfo de gente "decente" que se enfrentou grandes corporações e os bancos, que pediam a permanência britânica na UE.
Pressões para a saída
Cameron convocou o plebiscito em 2015 em resposta a pressões que vinha sofrendo para levar a permanência do Reino Unido no bloco a voto popular.
Tanto membros do Partido Conservador de Cameron quanto opositores argumentavam que, desde o referendo de 1975, quando 67% dos britânicos optaram por continuar na então CCE (Comunidade Econômica Europeia), à qual haviam aderido dois anos antes, a população do Reino Unido não teve mais chance de se manifestar sobre a permanência do país no bloco europeu.
As pressões aumentaram com o crescimento eleitoral do UKIP, que defende o distanciamento político britânico em relação a Bruxelas.
Para o professor de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília) Virgílio Arraes, a estagnação econômica da Europa nos últimos anos foi um fator que impulsionou a campanha a favor da saída britânica da UE.
“Em tempos de crise a solidariedade política diminui”, afirmou a Opera Mundi o especialista, que vê uma “precipitação do Reino Unido em propor essa saída”.
Arraes lembra que até mesmo a Grécia, um membro com “menos porte” do que o Reino Unido e que cogitou sair da UE em 2012, sofreu uma série de pressões para que permanecesse no bloco.
Na avaliação de Arraes, Cameron não esperava, ao propor o plebiscito, que a pressão popular para a saída do bloco fosse tão grande. A mudança, segundo ele, veio com a emergência dos refugiados, que se intensificou no fim de 2015 e se tornou a maior da história no continente europeu. O discurso anti-imigração foi um dos principais argumentos utilizados pelos apoiadores da 'Brexit'.
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