Coluna

Não desviar o foco. Derrotar o Golpe!

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Chamar um plebiscito agora é contribuir para legitimarmos o golpe

Não acredito que um plebiscito agora seja a solução para o momento que estamos vivendo. Se reduzirmos a luta a mais um calendário eleitoral estaremos cometendo o mesmo erro do último período. Erramos ao acreditarmos que “governabilidade” só é construída a partir do parlamento, se esquecendo do papel mobilizador que a sociedade tem.
Uma recente pesquisa da CUT/Vox aponta que 67% dos trabalhadores querem eleições já. Esses números demostram a insatisfação com o atual sistema político. O povo está cansado de um Congresso corrupto que não representa mulheres, negros, jovens e trabalhadores em geral; de ver que o vereador da sua cidade não defende seus interesses, mas os interesses de quem financiou a campanha; de políticos com o discurso “contra a corrupção”, como a deputada Raquel Muniz que teve seu marido, que é prefeito de Montes Claros (MG), preso por corrupção. Está insatisfeito de ler no noticiário as cifras milionárias de desvios de recursos públicos enquanto o desemprego bate à sua porta. E não reconhece Michel Temer como a liderança que mudará esta situação. 
Pesquisa é um instrumento de análise, não o nosso guia. Chamar um plebiscito agora é contribuir para legitimarmos o golpe em curso no país. Porque essa eleição não será geral, não atingirá todo o sistema que é alvo da indignação da população, não teremos a oportunidade de eleger novos senadores e deputados federais que expressem a representatividade da maioria da população, será restrita à presidência da República. 
Se anteciparmos as eleições, não há que se falar em golpe em curso no país. Podem argumentar que é a oportunidade do povo decidir. Será? O povo decidiu em outubro de 2014. Elegeu Dilma para um mandato de 4 anos. Ela teve seu mandato interrompido sem ter cometido um crime de responsabilidade. Foi golpe! As eleições agora apagam os rastros desse golpe, independente do resultado.
O governo Temer afunda cada dia mais em corrupção, em medidas impopulares, em rejeição da população. Não tem legitimidade. Uma antecipação de eleições não seria também uma boa oportunidade para que os setores da direita se livrem dele e se sentem na cadeira legitimados pelo voto? Porque, com o golpe em curso no país, está em curso também a criminalização da esquerda. Quantas lideranças serão presas ainda? E quantas estarão em condições de disputa?
Entraremos divididos em campo, com chances reais de setores golpistas e da direita defenderem antecipação de eleições também. E a narrativa do golpe será apagada.
A luta no próximo período será longa. Não há saídas de curto prazo. Quero, como todos que propõem o plebiscito, derrotar o golpe, mas novas propostas precisam ser construídas primando pela unidade da esquerda, sem novos acordos de bastidores.
Enquanto isso, continuo na luta para que Dilma Rousseff termine seu mandato, para o qual foi eleita pela maioria do povo brasileiro. Sei que nada será como antes do seu afastamento. Mais um motivo para, num retorno da Presidenta, ela pactue com as forças populares seus compromissos e agendas para o próximo período. E que com seu retorno continuemos nas ruas, pressionando por reformas estruturais. Nenhum governo de esquerda terá paz. Será atormentado pelas forças golpistas. Então, o caminho é se fortalecer com o povo. 

 

*Beatriz Cerqueira é coordenadora-geral do Sind-UTE/MG e presidenta da CUT/MG

 

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