Em entrevista dada à Agência Pública, publicada nesta segunda-feira (27), a presidenta afastada Dilma Rousseff falou, entre outros assuntos, sobre o processo de impeachment, o governo interino de Michel Temer, aborto e machismo.
Além disso, afirmou não ter consenso em relação ao plebiscito para novas eleições e que, portanto, não é correto afirmar que ela está comprometida com a ideia.
Questionada sobre como seria seu posicionamento caso voltasse à Presidência, Dilma afirmou que seu governo terá um caráter de “transição” e que não existe a possibilidade de “recompor o governo nos termos anteriores”, se referindo às antigas alianças. Segundo ela, o possível retorno de seu governo será mais voltado para o povo.
“É um governo que vai ter dois anos, e o que nós temos de garantir neste momento é a qualidade da democracia no Brasil, o que vai ocorrer em 2018. Eu farei isso, sobretudo. Acho que cabe a discussão de uma reforma política no Brasil, sem dúvidas. Nós tentamos isso depois de 2013 e perdemos fragorosamente”, afirmou.
"Michel é Cunha"
A presidenta afastada reforçou a ideia de que está sofrendo um "golpe parlamentar" e disse não saber ainda se irá pessoalmente ao Senado para se defender no processo de impeachment. Dilma também reafirmou que quem está por trás do governo de Temer é o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha.
“Ele dá essa guinada quando o Cunha assume a hegemonia dele. Porque ele teve a hegemonia. E essa hegemonia está expressa no governo do Michel Temer. Ele é Cunha. O Jucá não mente quando diz que Michel é Cunha. Um dos grandes problemas desse governo é esconder o Cunha. Porque o Cunha não é uma pessoa lateral deles. Ele é o líder deles. Líder em todos os sentidos”.
O endireitamento do PSDB
Dilma fez críticas à força que as pautas de direita estão ganhando no país. A petista acusou o PSDB, principal oposição ao seu governo e partido, de cometer um "gravíssimo equívoco político".
"Primeiro, perdeu a cara porque endireitou. Mas endireitou não só do ponto de vista dos projetos econômicos ou políticos. Endireitou do ponto de vista dos valores. Se misturou no movimento e deu força a ele. E estimulou, organizou e propôs um movimento que era baseado em algumas questões inadmissíveis. Como é que [o PSDB] se mistura com um [movimento] que defende o golpe militar? Como é que é possível tratar de uma situação em que os direitos individuais e coletivos mais básicos são desrespeitados?", questionou.
Indicação para a candidatura de 2010
Ao falar sobre o pedido do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva para que ela fosse candidata presidencial em 2010, Dilma revelou que a possibilidade de ela ser a primeira presidente mulher do país foi um fator importante, mas não determinante.
Ela admitiu que não tinha pretensão de ser presidente da República, mas que não poderia negar a indicação. "É assim quase público e notório que eu não tinha a menor pretensão de ser presidenta, tampouco de concorrer a nenhum cargo eletivo naquele então. Foi assim uma coisa 'espontânea muito pressionada'", disse.
Machismo e feminismo
Dilma ainda comentou a “violência” que sofreu por parte da imprensa e de alguns políticos por ser mulher. “Da imprensa eu passo surpresa todos os dias, passei surpresa desde o início do meu mandato, não só por ser mulher, mas também pelo projeto que eu represento. Eu não sou propriamente uma pessoa cujos aspectos positivos são realçados”, disse.
Para a presidenta afastada, isso se deve a um preconceito com mulheres que exercem cargos de poder. “Mulher não é afeita a coisas públicas – e aí aquela frase reiterada sobre mim, da minha ‘imensa dificuldade de lidar com os políticos’, como se [eles] fossem a coisa pública, ou como se alguma dificuldade de se lidar com os políticos não derive, em alguns momentos, da crise de valores que a política no Brasil atravessa”, considerou.
A questão do feminismo também foi levantada durante a entrevista. Quando solicitada a dar sua opinião pessoal sobre o aborto, ela evitou responder sob a alegação de que uma presidenta da República não pode falar sobre determinados assuntos. “Fui feminista. Hoje sou presidenta”, disse.
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Edição: Camila Rodrigues da Silva
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