Alef Queiroz Pereira, 22 anos, já cursava arquitetura em 2014 quando decidiu prestar vestibular para o curso técnico em design de móveis no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em Belém (PA). Ele já tinha interesse pela área e não queria esperar quase seis semestres para ter contato com o assunto na faculdade.
"Tem uma questão da aplicabilidade do conhecimento em si. O ensino superior não te dá muita prática do que você vai fazer. Ele te dá muita teoria em detrimento do técnico, no qual, normalmente, você tem acesso às máquinas, à matéria-prima”, avalia.
Universitários como Alef não têm um perfil tão incomum nas salas de curso técnico. Segundo o professor Anderson Trierveiler, que dá aula no mesmo curso na unidade do Senai de Curitiba (PR), os alunos buscam o ensino técnico para cobrir lacunas do ensino superior.
“O curso de arquitetura tem uma abordagem bem superficial. O [ensino] técnico é focado no mobiliário mesmo. O mobiliário tem uma parte construtiva que na arquitetura não se aprende. Aqui, a gente ensina técnicas de construção, trabalha com a parte produtiva, como qual é a aplicação necessária para o produto ter uma sustentação”, explica.
No caso de Alef, também pesou para a decisão de embarcar na dupla jornada de estudos o desaquecimento do mercado de trabalho. Naquele momento, ele avaliou que a formação técnica poderia ajudá-lo a se empregar mais rapidamente. “Eu tenho recebido informações que, na região Sul, onde a crise afetou mais, muita gente está preferindo fazer ensino técnico para poder entrar no mercado. Tem gente que nem pensa em fazer o superior agora. O ensino técnico sempre tem demanda”, relatou.
A oferta constante de trabalho também foi o critério de Gelson Pimentel Guimarães Junior. Aos 32 anos e com experiência em operação de empilhadeiras e segurança do trabalho, ele decidiu cursar o curso de técnico em têxtil para ter mais opções de trabalho. “Eu vi na área algo bem mais amplo.Nas áreas têxtil e de alimentação não falta emprego. Ninguém vai deixar de se vestir, ninguém vai deixar de comer. Ninguém vai deixar de se vestir, ninguém vai deixar de comer”, pondera.
Em busca dos sonhos
Já o paulista Pedro Henrique Cardoso, 28, resolveu apostar no curso técnico para mudar os rumos de sua bem-sucedida carreira. “Eu saí para fazer faculdade muito cedo, aos 17 anos. Fiz faculdade de administração e trabalhei sete anos em banco. Só que você acaba vendo que tem que fazer alguma coisa que te faça sentir mais feliz, não é só o dinheiro. Obviamente que foi bom para mim, consegui juntar um dinheiro, realizei algumas coisas. Mas não era uma coisa que me motivava. Uma coisa que eu realmente gostava de fazer”, avaliou.
A motivação para que ele escolhesse o curso técnico em produção de alimentos e bebidas foi a onda de cervejas artesanais. Consciente de que não poderia arcar com a criação de um empreendimento de imediato, ele resolveu que, primeiramente, iria se qualificar para trabalhar na indústria cervejeira.
“Eu entrei lá tentando me especializar na bebida. Mas as primeiras matérias que a gente tem são com frutas, hortaliças, farinha, leites e derivados, bebidas fermentadas de leite. Basicamente tudo que você vê de produto industrializado a gente vê lá. Fui para o Senai e vi que existe vida além da cerveja. É uma área muito ampla. Foi muito legal”, conta.
Teoria e prática
Apesar da abordagem focada na prática, os cursos técnicos também têm aulas teóricas e são elas, inclusive, que afastam alguns alunos no começo dos cursos, segundo explica Odnilzo Lobato Maues, instrutor do curso de confeitaria no Senai de Fortaleza.
“Quando se fala em confeitaria, as pessoas logo pensam nos bolos confeitados, pasta americana. No curso técnico ainda tem alguns alunos que ficam um pouquinho assustados com as cadeiras teóricas. Quando eles começam a ver organização de equipe, administração de estoque, informática, português, matemática, ficam um pouquinho assustados”, relata Maues.
Mas ele destaca que são justamente essas habilidades combinadas que garantem a empregabilidade dos egressos do curso. “O aluno tem tanto um conhecimento teórico quanto todo o amparo referente ao processo de produção. Conhece matéria-prima, aprende a estocar, a fazer congelamento. No mercado de hoje em dia, o profissional que sai com esse aval é muito bem visto”, afirma.
* Esta série de reportagens foi produzida em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi).
* Foto: José Eduardo Bernardes / Brasil de Fato
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