Preconceito

Estudantes promovem ato contra demissão de professoras da FMU

Docentes demitidas estimulavam debate feminista e racial em sala de aula

Redação |
Ato será realizado às 18h desta sexta-feira (1º), em frente ao prédio da instituição na Liberdade, em São Paulo (SP)
Ato será realizado às 18h desta sexta-feira (1º), em frente ao prédio da instituição na Liberdade, em São Paulo (SP) - Reprodução/Facebook

Organizado por um grupo de alunas e ex-alunas dos cursos de comunicação do complexo FIAM-FAAM das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), o ato FMU, machistas não passarão! Chega de machismo no meio acadêmico! será realizado às 18h desta sexta-feira (1º), em frente ao Campus Liberdade da instituição (Avenida da Liberdade, 937), em São Paulo (SP). O evento protesta contra a demissão de seis professoras de comunicação da faculdade, todas militantes feministas e de questões raciais.

As professoras foram demitidas ao longo da última terça-feira (28) durante uma cerimônia de encerramento do semestre, na qual foi apresentada a nova diretoria da faculdade.

Claudio Tognolli

Além de representarem o movimento feminista, todas as professoras têm em comum o fato de terem se pronunciado contra o episódio machista protagonizado pelo também professor do departamento, Claudio Tognolli. Ele xingou e inferiorizou a jornalista e professora da casa Helen Braun no programa Morning Show, da Jovem Pan, no dia 2 de junho.

Tognolli, que também é docente da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade São Paulo, foi repudiado em uma nota do Coletivo Feminista da faculdade, que afirmava que o comportamento do professor não é uma surpresa. "É degradante, assustador e, acima de tudo, inaceitável que o Departamento de Jornalismo e Editoração, a Escola de Comunicações e Artes e a Universidade de São Paulo admitam que Claudio Tognolli ainda se autodenomine professor dessas instituições".

Na última quarta-feira (29), o coletivo da ECA organizou um debate com o tema "Jornalistas Contra o Assédio", que contou com a presença das professoras e jornalistas Hellen Braun e Fhoutine Marie. Fhoutine é uma das seis demitidas pela FMU na terça-feira e afirmou no evento que a demissão foi uma surpresa.

"Minha principal reação não foi tristeza, mas revolta. A demissão foi feita de forma bastante constrangedora. As professoras foram chamadas em público para conversar. Imagina você participa do encerramento achando que está de férias e sai da sala demitida", desabafou.

A professora não estava presente na reunião e ficou sabendo da própria demissão pelo grupo de Whatsapp dos professores.

"O motivo dado é que eu disponibilizei poucas horas para aula no próximo semestre por questões pessoais. A faculdade recomenda o mínimo de 12 horas e eu disponibilizei as 12 horas. Eu tenho uma das titulações mais altas da faculdade. Sou doutora, sempre tive uma ótima avaliação dos alunos. Nas minhas aulas, eu sempre procurei trazer discussões que não ficassem restritas à formação comum, ter um trabalho que privilegiasse a formação humanística e despertasse o senso critico. Sempre deixei claro que minha missão não era fazer pessoas passaram no ENADE [Exame Nacional de Desempenho de Estudantes]. Eu sei que o problema não é comigo e, quando eu observei as outras professoras demitidas, percebi que eram professoras militantes também: duas negras e uma lésbica. A presença da mulher negra na universidade já era pequena em termos de corpo discente e docente. Agora ficou menor ainda", denunciou Fhoutine no debate.

A professora, que também participa de um coletivo anarquista em Santo André, entende que a justificativa econômica da crise para demissões também pode ser usada para silenciamento.

"Pode ser que eu não consiga mais oportunidades no jornalismo ou para dar aula, mas eu denunciei sem olhar para trás. Eu sei que isso é maior do que eu. Eu espero que todo esse barulho impeça novas demissões que claramente possuem viés político", concluiu.

Reincidência

A estudante do curso de Direito da FMU e militante do Coletivo Feminista da faculdade, Nathália Keron Miranda, reiteirou que o perfil das seis professoras demitidas é o mesmo: "Todas levam o debate feminista, racial e LGBT para dentro da sala de aula. Têm o mesmo perfil e inclusive são amigas". Segundo Nathália, o Coletivo Feminista já recebeu diversas reclamações e denúncias de professores da FMU.

"Nunca recebemos denúncias de assédio especificamente do Tognolli, mas de outros professores de outros cursos sim, e a universidade não toma nenhum tipo de providência. Por isso é muito ruim para a gente ter essas professoras que debatem esses assuntos demitidas", afirmou a estudante. Uma das organizadoras do protesto, a jornalista e ex-aluna da faculdade de comunicação Cinthia Viana, formou-se no ano passado sob orientação da professora Fhoutine. Cinthia destaca que a nota da reitoria foi apenas um "passa pano" para o caso.

"Quando uma funcionária é demitida, ela tem o direito de saber o motivo. Deram uma justificativa que não corresponde à realidade. As professoras tinham mais de 70% de aprovação dos alunos, inclusive nos padrões do MEC. Estamos denunciando esse caso claramente machista. Por que na crise econômica apenas as mulheres são demitidas?", questionou a jornalista.

Em uma nota divulgada nesta semana, a reitoria do Complexo Educacional FMU | FIAM-FAAM destacou que repudia qualquer tipo de preconceito político, religioso, étnico-racial e de gênero: "Ressalto que os desligamentos realizados pela Instituição não estão associados a qualquer questão étnico-racial ou de gênero", expôs a nota. A reitoria também destacou que as demissões foram baseadas nos resultados da avaliação do corpo docente.

Ato na próxima semana

Além do ato desta sexta-feira, outro protesto contra a demissão das professoras já está marcado para a próxima quarta-feira (6). Também foi criada a campanha online "Mulheres contra o assédio" para alunas de qualquer universidade denunciarem anonimamente relatos de assédio de professores, alunos ou funcionários. "As vítimas têm medo de denunciar e ficar sem oportunidades no mercado de trabalho. Por isso, criamos o Tumblr", disse Cinthia.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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